“Espectros de Batepá. Memórias e narrativas do «Massacre de 1953» em São Tomé e Príncipe”, livro de Inês Nascimento Rodrigues apresentado em Coimbra, no próximo sábado (30), às 16h, nas novas instalações de A Cena Lusófona, no Pátio da Inquisição.“Espectros de Batepá” resulta de um projecto de doutoramento elaborado no âmbito do programa de “Pós-Colonialismos e Cidadania Global” do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (CES/FEUC) e do trabalho desenvolvido no projecto “CROME – Memórias Cruzadas, Políticas do Silêncio: as guerras coloniais e de libertação em tempos pós-coloniais”, do qual Inês Nascimento Rodrigues é investigadora.
Nesta obra – adianta a autora no texto de apresentação – o massacre de 1953 em São Tomé e Príncipe é “encarado não apenas como um evento histórico, mas como um evento cuja dimensão simbólica necessita de ser trazida para o centro da investigação”. “Na impossibilidade de aceder totalmente ao que constituiu a experiência do massacre – explicita a investigadora –, é através da imaginação e das representações que se podem contar múltiplas memórias do evento”: as que “legitimam as narrativas públicas e/ou oficiais” e outras, “que fazem parte de um processo mais inclusivo, em que se criam espaços discursivos, simbólicos e políticos que permitem articular memórias não-dominantes sobre os referidos acontecimentos”. É aqui que entra a figura do espectro: “O que é que os espectros contam sobre as memórias de Batepá e sobre o colonialismo português nas ilhas? O que é que revelam sobre as relações de poder e sobre a sociedade colonial? O que é que os espectros dizem sobre identidades sociais e grupos marginalizados no arquipélago? Quem escreve o massacre e quem o comemora? Como são desenhados Portugal e São Tomé e Príncipe nestas representações?” – eis algumas das questões a que Inês Nascimento Rodrigues procura responder com o seu trabalho.
Com prefácio de António Sousa Ribeiro e posfácio de Miguel Cardina, o livro é o segundo volume da colecção Memoirs das Edições Afrontamento. Será apresentado em Coimbra pela realizadora e investigadora Diana Andringa e pela investigadora e professora universitária Catarina Martins, com moderação a cargo de Bruno Sena Martins, também investigador do CES/FEUC. A sessão contará ainda – no Pátio do Centro de Artes Visuais, que se associa à iniciativa – com um dj set com sonoridades são-tomenses, por João Gaspar (autor, entre outros, do programa “Magia Negra”, da Rádio Universidade de Coimbra).
Com entrada livre, a apresentação da obra “Espectros de Batepá” é uma das primeiras iniciativas públicas organizadas pela Cena Lusófona nas suas novas instalações, que assim começa a dar a conhecer o novo Centro de Documentação (ao qual já é possível aceder mediante marcação prévia) e a sala polivalente.
Licenciada em Jornalismo, com Mestrado em Estudos Artísticos e com 10 anos de experiência de rádio na RUC, Inês Nascimento Rodrigues é doutorada em Pós-colonialismos e Cidadania Global pelo CES/FEUC, com a tese que agora publica em livro. Investigadora do projecto CROME, coordenado por Miguel Cardina e financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, tem diversas publicações, entre as quais se destaca o mais recente artigo “Descolonizar a fantasmagoria. Uma reflexão a partir do ‘Massacre de 1953’ em São Tomé e Príncipe” (2018). Os seus actuais interesses de investigação centram-se nos estudos da memória, nas teorias pós-coloniais e nos debates sobre a representação e comemoração das guerras coloniais e de libertação.