Poemas de Delmar Maia Gonçalves
I
“Meu sangue”
Tudo começou aqui
minha alma de poeta
minha aura de africano
minha alma mestiça incolor
de negro e branco
feita de adição
Descobri acenos da Europa
no africano que sou
e visões de África
no mestiço que mora em mim
que jamais recusará
os glóbulos caucasóides
e negróides que coabitam em mim
orgulhoso que sou
do meu sangue luso-africano
das heranças de Bragança e Chuabo
num encontro para a eternidade.
Pois é…!
II
Todos os dias
sou carborizado
pelo olhar flamejante
de Hienas
que vestem penas de Pombas!
III
A perda de Pinóquio
foi a maior
da minha infância
Ainda não tinha descoberto
o oceano de feitiços mágicos
do teu corpo.
IV
Num país de sombras
sem contornos
onde todas as paisagens
são outras
reinam mentes amordaçadas
quando o verbo se faz cio.
V
Somente vejo pedras
esvoaçando a céu aberto
o nosso frágil relevo interior
Mas a poeira cinzenta do silêncio amordaçado
ilumina-as!
VI
“Donos da Terra”
Ó insaciáveis donos da terra
Ó cavaleiros embriagados da identidade
olhai bem para mim
Não interrogarei
o mar que vai e vem
não interrogarei
o solo que nos absorve universalmente
não interrogarei
o céu que é infinito e a todos abraça
não interrogarei
o sol que partilhamos
nem a lua que nos enfeitiça misteriosamente
Mas como poderia
evitar pedir-vos que me devolvais
a pátria que me enreda
e onde fiquei fossilizado?
Como poderia evitar pedir-vos
que me devolvais a tranquilidade perdida?
VII
“Ilha é…”
Ausência de mar
no centro circular do mundo.