Pela primeira vez concordo com Temer, mas ressalvo:
– O medo da esposa e filho do interino não deve ter sido maior do que o medo dos que estavam se manifestando verbalmente contra o governo e foram agredidos fisicamente pela polícia armada e por jatos de água de carros do corpo de bombeiros. Sem contar (não contei) que havia uns 10 seguranças na porta da mansão de Temer.
– Família, quando citada na esfera política, não deve ser referência aos que têm mesmo sobrenome e herança de sangue, mas à sociedade; para ser mais clara, ao povo que elegeu os políticos (caso da atual, ainda que combalida, democracia que o Brasil vive).
Feitas as ressalvas diretas, vou a considerações mais amplas, ainda fazendo referência a esse agrupamento social, “família”, que Temer mencionou:
– As medidas fiscais anunciadas hoje (24), se aprovadas, vão reduzir, principalmente, “gastos” na educação e saúde. Isso significa, na minha opinião, “mexer” com mais de 80% da população brasileira, principalmente com as famílias de baixa renda. E também com as famílias dos milhões de desempregados, que o ministério Temer quer tanto “proteger”, segundo declarações públicas.
– Aliás, as famílias dos desempregados – não sei em que medida e aqui incluo também classe média – estão sobrevivendo com ajuda do salário dos aposentados. Há muito idoso sustentando a casa e há muito jovem que não conseguiu o primeiro emprego.
Que não cause espanto o dado de que temos “apenas 5% da população acima dos 65 anos e, no entanto, os salários dos aposentados somam 13% do PIB”. Uma estatística não tem relação com a outra, não neste momento em que o perfil dos aposentados é tão variado: há os que se aposentaram com menos de 50 anos, décadas atrás, há os que ficaram desempregados e não podiam se dar ao luxo de adiar o pedido do benefício, e há os que tiveram uma carreira de servidor público que exige a correção do salário de acordo com o mercado. Sem falar de alguns poucos que ganham aposentadoria milionária, mas é justo atingir toda a massa de aposentados por conta desses, provavelmente, intocáveis pela lei?
Concluo o artigo com duas perguntas:
– Não lhe parece, prezado Temer, que o que o seu governo chama de gasto é “investimento” em setores carentes, portanto, essa economia forçada irá penalizar majoritariamente famílias que já enfrentam graves problemas de saúde como a epidemia de Zika Vírus? Há algum caso de microencefalite na sua família ou na dos seus amigos e aliados? Se houver, queira desculpar-me (não sou presidente da República, mas também sei voltar atrás no caso de erros, como o senhor já voltou atrás algumas vezes, notavelmente, em apenas duas semanas de gestão, parabéns).
– A segunda e última pergunta surge instigada por uma repórter da GloboNews que, diante das medidas fiscais anunciadas, afirmou que o tamanho da verba não corresponde à eficiência da gestão, já que o Chile está 30 anos adiantado, no ensino, em relação ao Brasil. Não entendi a comparação, desculpe-me a ignorância, mas entendi que, apesar da redução no gasto, vamos ter, finalmente, uma “gestão eficiente” da educação – e não só da educação, segundo o senhor tem anunciado tanto. E o que essa eficiência toda nos trará em termos concretos?
Se é para economizar, precisamos compreender o que nós, povo – esse ente que não tem rosto, mas tem milhares de famílias na sua constituição – vamos ganhar com a aprovação das novas medidas fiscais.