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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Mia Couto: 30 anos de vida literária

Delmar Gonçalves, de Moçambique
Delmar Gonçalves, de Moçambique
De Quelimane, República de Moçambique. Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora (CEMD) e Coordenador Literário da Editorial Minerva. Venceu o Prémio de Literatura Juvenil Ferreira de Castro em 1987; o Galardão África Today em 2006; e o Prémio Lusofonia 2017.

Publicamos o discurso de Delmar Maia Gonçalves, Poeta e Presidente do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora, em homenagem a Mia Couto pelos seus 30 anos de carreira, em 2013, quando publicou o seu primeiro livro Raiz de Orvalho e Outros Poemas.

Aproveito este momento solene, para parabenizar este ilustre Escritor filho de Moçambique que ganhou a admiração e o respeito do mundo pelos seus feitos nos seus já longos 30 anos de Vida Literária, recheados de sucessos. Depois saudar esta ilustre mesa de tanta gente que aprendi a admirar pela  sua sólida obra e um respeitável percurso.

Relativamente ao homenageado, tomei contacto com a sua escrita primeiro nos jornais e revistas moçambicanas,  nos  anos  quentes da revolução (em que sempre acreditei), pois, de necessária passou a ser imprescindível a independência sonhada e pretendida. Sou um filho da Revolução Moçambicana, mas retirem daí qualquer carga ideológica! Quando lia o jornal “Notícias” ou o Semanário “Domingo” ou  ainda a revista “Tempo”, raramente não ensaiava o gesto de procurar um texto, uma crónica, um comentário, um poema, uma estória do Mia. Ele desideologizou a palavra açucarando-a.

A escrita dele surge como algo novo e fresco num período conturbado com depressões, tristezas, euforias, alegrias, dramas, melodramas e comédias em simultâneo. E acabou deixando marcas nas águas Índicas.

Não posso deixar de estabelecer um paralelo entre o  Mia escritor e o meu saudoso avô Armando Adão Lauchande, um ilustre  desconhecido e exímio Contador de Histórias/Estórias Quelimanense. É que o meu avô que sempre foi um excelente anfitrião, bebia o seu óputo, ficava ébrio e tornava-se ainda mais sóbrio. Nunca vira ébrio tão sóbrio na minha vida!

O Mia vai namorando com as palavras, brincando, se divertindo, bamboleando, rindo com prazer, sem nunca deixar de estar sóbrio. Interessante, a literatura pode afinal ser séria e divertida ao mesmo tempo!

Sempre que o meu humilde avô bebia, fechava-se em casa e gritava aos sete ventos que os apologistas da revolução  socialista em Quelimane, não tinham nada de socialistas e tinha razão, pelos vistos! Era muito sóbrio e sábio o meu avô!!!

Ainda vi nascer o livro de poemas “Raiz de Orvalho”, que li com muito interesse e que demonstra também que estamos perante um grande poeta de corpo inteiro, para além de romancista, cronista, contista e jornalista. E sabemos que na poesia não há impossíveis, na poesia cabe tudo.

Ficaram-me na retina alguns versos do Poema “Identidade” e que marcam o meu ainda modesto percurso literário:

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato
morro
no mundo por que luto
nasço”.

Seu trabalho de que muito me orgulho, tem sido de enorme inspiração para as novas gerações de moçambicanos no interior do país e nas diásporas, pretendentes a escritores, mas também para outros lusófonos. Seu eterno namoro  com a palavra escrita e falada um exemplo.

Mia Couto, hoje tornou-se um Escritor universal, nunca mais será apenas mais um filho da prolífica Literatura Moçambicana. E ainda bem para a Literatura universal, ainda bem para a Literatura Moçambicana, ainda bem para as  Literaturas Africanas.

Bem haja por tudo e continuação de muitos sucessos!

 

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