O que há de comum em autores como Edgar Allan Poe, Mary Shelley, Oscar Wilde, Júlio Cortázar e Stephen King? Segundo o poeta e professor de Literatura Claudio Daniel, todos eles escreveram livros “fantásticos” – um gênero literário que influenciou o cinema, as HQs, as séries de TV e até os romances de entretenimento. Claudio ministrará em outubro, no Tapera Taperá, em São Paulo, um curso sobre a literatura fantástica.
Apresentação do tema. Confira:
No reino do fantástico
O curso Viagem Fantástica – Histórias de Mistério, Terror e Fantasia é um ciclo de duas aulas em que serão comentadas algumas das principais obras de ficção do gênero conhecido como literatura fantástica, desde as suas origens, entre o final do século 18 e meados do século 19, em que se destacaram autores como Hoffmann e Edgar Allan Poe, até as manifestações contemporâneas do gênero, em que se destacam escritores como Stephen King e Clive Barker.
O conceito de fantástico pode ser aplicado aos textos literários que não pretendem descrever a realidade objetiva, como os romances de Balzac ou Zola, nem reproduzem o pensamento racional do discurso científico e filosófico que se desenvolveu a partir do Iluminismo. O fantástico está mais próximo do sonho, da alucinação, do imaginário, da mitologia, porém, sem se afastar completamente do mundo que nós conhecemos.
Conforme escreve Tristan Todorov, em seu livro Introdução à Literatura Fantástica, quando um conto, romance ou novela apresenta uma situação inusitada, que aparentemente não pode ser explicada pelas leis naturais, ingressamos no reino do fantástico. Porém, de acordo com o conceito do filósofo e linguista búlgaro, é preciso que se mantenha, ao longo de todo o relato, uma dúvida se o evento extraordinário é real, explicado pela lógica, ou se é sobrenatural, regido por leis que ignoramos.
A possibilidade de se hesitar entre as duas hipóteses é o fantástico. Caso o leitor, no final da narrativa, encontre uma explicação racional, por mais rara que seja, entramos no reino do estranho; se a explicação for de ordem sobrenatural, estamos diante do maravilhoso; apenas a hesitação entre real e imaginário, segundo Todorov, garante a existência do fantástico.
O conceito de Todorov, claro, não é o único; autores como H. P. Lovecraft, no livro O Horror na Literatura, escreve: “A emoção mais antiga e mais intensa da humanidade é o medo, e o mais antigo e intenso dos medos é o medo ao desconhecido”. A partir dessa premissa, o autor norte-americano afirma que “o relato sobrenatural sobreviveu e se desenvolveu (…) porque se fundamenta em um princípio profundo e elementar”, de caráter universal, que é justamente o medo.
Estas e outras afirmações, como a de Roger Caillois, para quem “todo o fantástico é ruptura da ordem estabelecida, irrupção do inadmissível no seio da inalterável legalidade cotidiana”, traduzem diferentes aspectos de um gênero complexo, que não se resume facilmente a um único conceito.
Ao longo do curso, pretendemos conversar com os alunos sobre estas e outras definições, a partir da análise de obras como A Queda da Casa de Usher, de Edgar Allan Poe; Frankenstein, de Mary Shelley; O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde; O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson; O Homem Invisível, de H. G. Wells; A Casa Tomada, de Júlio Cortázar, entre outros textos.
por Claudio Daniel, Poeta, tradutor e ensaísta, é formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, com mestrado e doutorado em Literatura Portuguesa pela USP, além de pós-doutor em Teoria Literária pela UFMG | Texto original em português do Brasil
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