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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

A modéstia jazzística do baterista roqueiro Charlie Watts

Como o baterista dos Rolling Stones, Charlie Watts, infundiu o suingue do jazz em uma das maiores bandas de rock ‘n’ roll.

por Victor Coelho, em The Conversation | Tradução de Cezar Xavier

Em uma época em que bateristas de rock eram showmen maiores do que a vida com grandes kits e egos para combinar, Charlie Watts permaneceu o homem quieto por trás de uma modesta bateria. Mas Watts não era um baterista de rock típico.

Parte da formação dos Rolling Stones de 1963 até sua morte neste 24 de agosto de 2021, Watts forneceu a batida de fundo de seus maiores sucessos ao injetar sensibilidade do jazz – e swing – no som dos Stones.

Como musicólogo e co-editor do Cambridge Companion to the Rolling Stones – bem como um fã que viu os Stones ao vivo mais de 20 vezes nas últimas cinco décadas – vejo Watts como parte integrante do sucesso da banda.

Como Ringo Starr e outros bateristas que surgiram durante a explosão pop britânica dos anos 1960, Watts foi influenciado pelo swing e pelo som de big band que eram extremamente populares no Reino Unido nas décadas de 1940 e 1950.

Modesto com as varas

Watts não foi formalmente treinado como baterista de jazz, mas músicos de jazz como Jelly Roll Morton, Charlie Parker e Thelonious Monk foram as primeiras influências.

Em uma entrevista de 2012 para o New Yorker, ele lembrou como seus registros informaram seu estilo de jogo.

“Comprei um banjo e não gostei dos pontos no pescoço”, disse Watts. “Então tirei o braço e ao mesmo tempo ouvia um baterista chamado Chico Hamilton, que tocava com o Gerry Mulligan, e queria tocar assim, com brushes (escovas típicas de bateristas de jazz). Não tinha caixa, então coloquei a cabeça de banjo em um pedestal.”

O primeiro grupo de Watts, Jo Jones All Stars, era uma banda de jazz. E elementos do jazz permaneceram ao longo de sua carreira nos Stones, fornecendo a Watts uma ampla versatilidade estilística que foi crítica para as incursões dos Stones além do blues e do rock ao country, reggae, disco, funk e até mesmo punk.

Havia uma modéstia em sua forma de tocar que veio de seu aprendizado de jazz. Não há grandes solos de bateria de rock. Ele se certificou de que a atenção nunca estivesse nele ou em sua bateria – seu papel era manter as músicas avançando, dando-lhes movimento.

Ele também não usava um kit grande – sem gongos, sem andaimes. Ele manteve um modesto, mais comumente encontrado em quartetos e quintetos de jazz.

Da mesma forma, o uso ocasional de pincéis sobre baquetas por Watts – como em “Melody” de “Black and Blue” de 1976 – mostra mais explicitamente sua dívida para com bateristas de jazz.

Mas ele não veio com um estilo. Watts foi treinado para se adaptar, mantendo elementos do jazz. Você pode ouvir no R’n’B de “(I can’t get No) Satisfaction”, ao ritmo infernal sambístico de “Sympathy For The Devil” – duas canções nas quais a contribuição de Watts é central.

E uma música como “Can’t You Hear Me Knocking” de “Sticky Fingers” de 1971 evolui de um dos riffs de maior calibre de Keith Richards para uma longa seção instrumental final, única no catálogo de músicas dos Stones, de jazz latino de Santana, contendo algumas grandes tomadas rítmicas sincopadas e um chimbal de bom gosto através do qual Watts dirige as diferentes seções musicais.

Você ouve elementos semelhantes em “Gimme Shelter” e outras canções clássicas dos Rolling Stones – são preenchimentos de bateria e gestos perfeitamente posicionados que fazem a música e o surpreendem, sempre em segundo plano e nunca dominando.

Alimentando a ‘sala de máquinas’

O Watts para os Stones foi tão central que, quando o baixista Bill Wyman se aposentou da banda após a turnê “Steel Wheels” de 1989, foi Watts quem foi encarregado de escolher seu substituto.

Ele precisava de um baixista que se encaixasse em seu estilo. Mas a escolha de Darryl Jones como substituto de Wyman não foi a única parceria importante para Watts. Ele tocou fora do ritmo, complementando o estilo de guitarra muito sincopado e guiado por riffs de Richards. Watts e Richards deram o ritmo a tantas músicas dos Stones, como “Honky Tonk Women” ou “Start Me Up”. Se você os assistisse ao vivo, notaria Richards olhando para Watts o tempo todo – seus olhos se fixaram no baterista, procurando onde estão os acentos musicais e combinando seus “tiros” rítmicos e batidas irregulares.

Watts não aspirava ser um virtuoso como John Bonham do Led Zeppelin ou Keith Moon do The Who – não havia excesso de bateria. A partir desse treinamento inicial de jazz, ele manteve distância dos gestos externos.

Mas por quase seis décadas, ele foi o principal ocupante, como disse Richards, da lendária “sala de máquinas” dos Rolling Stones.


por Victor Coelho, Professor de música, Boston University   |  Texto original em português do Brasil, com tradução de Cezar Xavier

Exclusivo Editorial PV / Tornado

The Conversation

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