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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Morreu André Glucksmann, o filósofo de acção

GlucksmannO filósofo André Glucksmann, nascido em Boulogne-Billancourt (Hauts-de-Seine) a 19 de Junho de 1937, morreu em Paris na noite de 9 para 10 de Novembro. Glucksmann era o elo entre duas gerações de intelectuais, a de Sartre, Aron e Foucault e o grupo dos “novos filósofos” que protagonizaram a ruptura com o marxismo na década de 1970.

André Glucksmann cresceu num ambiente judaico na Europa Central e Oriental. Os pais, que vieram da Palestina mandatária, aderiram à Internacional Comunista, refugiando-se em França a partir de 1933. Sob a ocupação, André Glucksmann viveu o destino das crianças escondidas. Perdeu o pai, que morreu no início da guerra, enquanto a mãe se juntou à Resistência.

Após a libertação, seguiu estudos superiores que o levaram à École Normale Supérieure de Saint-Cloud. Obtido o diploma de Filosofia, em 1961, começa a mover-se no meio comunista. Conhece Raymond Aron, um dos poucos intelectuais de centro-direita da altura, e é seu assistente na Sorbonne quando se envolve nos acontecimentos de Maio de 68. Aron influencia o seu itinerário rumo às questões geopolíticas e à filosofia da dissuasão, que darão origem em 1975 ao seu primeiro livro, “O Discurso da Guerra”.

Glucksmann-le-discours-de-la-guerreGlucksmann deu voz no Ocidente às atrocidades infligidas ao povo Tchetcheno pelo governo de Vladimir Putin. Em 2002, numa sala de conferências no centro de Moscovo, diante dos oficiais e do chefe de Estado Maior da Rússia, levantou-se e pediu um minuto de silêncio em homenagem aos combatentes do povo tchetcheno. Um minuto difícil de engolir para as altas patentes da Rússia de Vladimir Putin, que acabaram por se levantar, enquanto Glucksmann permanecia de pedra.

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liberationOpinião

A sua tese de doutoramento, sob a direcção de Raymond Aron, foi dos textos que maior impacto teve na minha vida intelectual. Tive a oportunidade de a ler logo que ela ficou disponível e foi uma surpresa, um discurso singular e fascinante. Mais tarde, essa tese deu origem ao livro “Le Discours de la Guerre”, a mais sofisticada análise da “mecânica da vaga” do maoísmo que se produziu no Ocidente (os imprescindíveis trabalhos de Lucien Bodard, dito “Lulu le Chinois”, nascido em 1914 em Chongqing e o europeu que melhor conhecia a China do século XX, são de um outro registo).

“Philosophe de combats, du côté de la liberté” titula o Libération, na sua morte. Um belo epitáfio. E, sobretudo, verdadeiro.

por José Mateus

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