Num vasto compartimento de 10,4×6,35 o triclinium desta villa ostenta o belo “Mosaico das Musas”. Esta era uma zona exclusiva para banquetes, onde o senhor da casa procurava impressionar os seus convidados, também, através de pinturas murais, infelizmente já desaparecidas.
Este luxo exibicionista era um testemunho objectivo da importância deste local na villa nos finais do séc. III ou princípio do séc. IV. Como mensagem referencial, o conviva podia perceber o esmero a que o senhor da casa dedicava a todos os pormenores e onde se podia ler à entrada: SCO (PA) SPRA TESSELLAM LEDERE NOLI. VTERI F(ELIX), como quem diz – “Não estragues o mosaico com uma vassoura demasiado áspera, boa sorte!”. Podendo, nós, facilmente concluir que o compartimento da casa em que o asseio é uma regra que ninguém ousa descurar é, indiscutivelmente o triclinium, porque não havendo pratos, os convivas deixavam cair as sobras da comida para o chão.
A fórmula final da inscrição mosaísta – boa sorte – é particularmente saudada numa sala em que os acepipes suculentos e a degustação de vinhos óptimos, acrescia, indubitavelmente, uma visão muito rica e inspiradora, a partir do seu leito de refeição, daquele chão sumptuoso que situava o “Mosaico das Musas”.
Naturalmente que as escolhas de temas tão pessoais, pertencem em exclusividade ao dono da casa. A oficina que efectuou estes trabalhos não deixou assinatura, mas observando o tratamento dos cavalos vencedores, ou as musas, ou ainda alguns motivos geométricos ao nível do peristilo, por exemplo, leva-nos a perceber, ali, uma oficina africana itinerante. O que não deve espantar, porque as oficinas de Cartago, mas também as de Byzacena, encontravam-se muito activas no mundo romano, o que os levava a atravessar o estreito de Gibraltar. Isto é verdade para o conjunto da Península Ibérica.
Nota da Edição
Os materiais recolhidos encontram-se em exposição no Museu Nacional de Arqueologia
Mosteiro dos Jerónimos – Praça do Império, 1400-026 Lisboa