Um dos mais importantes grupos vocais da história da música popular brasileira completa 60 anos de carreira neste ano. Não com sua formação original, pois iniciou como trio e tornou-se o MPB4 que, no dizer de Chico Buarque “quartetos vocais entram e saem de moda, reagrupam-se e desintegram-se, patenteiam o nome, mudam de cara e reaparecem com nova formação. O MPB4 faz tudo isso e ninguém percebe. É sempre novo e sempre igual”, no site Cultura Niterói.
Originalmente integrado por Ruy, Aquiles, Miltinho e Magro, que faleceu em 2012 aos 68 anos, vítima de câncer, e foi substituído por Paulo Malaguti Pauleira, que integrava o grupo Céu da Boca. Antes ainda, em 2004, Ruy deixou o quarteto e foi substituído por Dalmo Medeiros, que também integrava o grupo Céu da Boca. Ruy morreu em 2018, aos 80 anos.
Roda Viva, de Chico Buarque, acompanhado pelo MPB4 no Festival da Record em 1967
O grupo firmou uma história singular na MPB, fixando-se entre as mais importantes vozes em defesa da cultura popular ao iniciar a carreira, ainda como trio no Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, o CPC da UNE, antes de a ditadura, implantada em 1964, fechar a UNE e cercear todas as manifestações culturais populares e censurar tudo que tivesse conteúdo.
Para quem não sabe, o CPC da UNE tinha a intenção de levar arte e cultura a todos os rincões do país, discutindo a situação de subdesenvolvimento dependente do Brasil e a penúria em que vivia grande parte da população brasileira. Muitos artistas e intelectuais se aproximaram dos estudantes para combater a desinformação e a falta de conhecimento de parcela significativa da sociedade.
Três Apitos (1933) e Pra que Mentir (1934), ambas de Noel Rosa
Com a implantação da ditadura, muitos artistas se puseram na resistência e o MPB4 fez parte desse time. O grupo gravou músicas de Chico Buarque, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Milton Nascimento, João Bosco, Paulinho da Viola, Gonzaguinha, entre muitos outros com enorme sucesso. Tanto que lançará um álbum comemorativo com a presença de Chico, Milton, Edu Lobo, Francis Hime, Bosco, Paulinho e muitos outros.
Também está em fase de produção um documentário, ainda sem título, sobre a trajetória do grupo, com direção de Paulo Thiago. Afinal, não é sempre que um grupo musical, ainda mais vocal, chega aos 60 anos em plena forma.
Amigo É Pra Essas Coisas (1970), de Aldir Blanc e Silvio Silva Jr.
Despontou para o grande público no antológico Festival da Record de 1967 ao acompanhar Chico Buarque na interpretação de Roda Viva, de sua autoria, terceira colocada no festival e um marco na carreira do compositor, que neste ano completa 80 anos de idade e também 60 anos de carreira profissional.
Outro clássico na interpretação ímpar do quarteto é a canção Amigo É Pra Essas Coisas, de Aldir Blanc (1946-2020) e Silvio da Silva Jr. A versatilidade do grupo pode ser conferida em O Pato, de Vinicius de Moraes e Toquinho. E em outras diversas canções marcantes da MPB de diversos autores, tão diferentes entre si que se encontram no consenso da voz do MPB4.
Assim Seja, Amém (1975), de Gonzaguinha
Por tudo o que esse grupo já fez pela música popular brasileira, com seu estilo inconfundível, merece muitas comemorações pelos 60 anos de carreira. E que venham muitos mais ainda pela frente.
Porque como cantou outro ícone dos vocais brasileiros, o Quarteto Em Cy, que também completaria 60 anos se estivesse em atividade, a música de Carlo Lyra (1933-2023) e Vinicius de Moraes (19013-1980), Marcha de Quarta-Feira de Cinzas, onde dizem que “é preciso cantar, mais que nunca é preciso cantar, é preciso cantar e alegrar a cidade”, na canção Marcha de Quarta-Feira de Cinzas, e superar todo o ódio implantado.
O Pato (1980), de Vinicius de Moraes e Toquinho
Comemorar os 60 anos do MPB4 significa comemorar parte importante da história da música popular brasileira e da trajetória de todos os artistas que escolheram resistir a toda a forma de opressão e, através da arte, denunciaram as atrocidades do fascismo. Sempre bom relembrar para as novas gerações entenderem a luta por liberdade e direitos humanos.
Texto em português do Brasil