“O faminto pode falar mal, pois a fome a isso o autoriza.”
Provérbio Africano
A política não é o centro do mundo, mas parece continuar a ser a escolha preferencial dos jornais, rádio e televisão que comentam e noticiam África.
Não falarei de Portugal que obviamente divide esse interesse especial e preferencial com o futebol, as novelas, as festas populares, as touradas e os concertos. Um caso estudo indiscutível.
Já são poucos os jornais e revistas portugueses especializados que noticiam ou escrevem sobre África. Sobram em Lisboa poucos ou nenhuns. Ainda haverá? Tenho dúvidas. Não os vejo.
Talvez as notícias sobre África predominem nos jornais online.
Dedicam demasiado espaço à política, demasiado tempo aos políticos (de preferência os que estão no poder) e pouca ou nenhuma importância dão às oposições, à sociedade civil que parecem propositadamente invisíveis.A ideia da política como um lugar de “predestinados perpétuos” eterniza-se e perpetua-se no espaço e no tempo.
São os deuses da exclusão com discursos adocicados de inclusão. E isso é uma boa notícia? De forma alguma.
Em Portugal conseguem ter e ver toda a atenção neles centrada nas rádios e televisões. Os outros são paisagem.
Não se admirem pois, que quando os catedráticos portugueses e outros ilustres professores universitários reconhecem um excelente estudante bolseiro africano atirem logo: “Você é de onde?”; “Você vai ser ministro!!!”. Pronto, está garantido. Todos os bolseiros africanos na Europa serão políticos e governantes (ministros, vice-ministros, secretários de estado e directores).
Alguns até já se ensaiam com os fatos, as gravatas e as malas de diplomatas (quanto mais caras melhor!).
Reparem que não há necessidade de médicos, de professores, de advogados, de jornalistas, de cientistas, de enfermeiros, de cientistas, de arquitectos, de engenheiros. Não há mesmo necessidade! Enfim, há fartura e em África não se estuda.
A cooperação serve para quê afinal? Tornou-se um mero jogo de interesses. Dá emprego, dá e faz dinheiro. Apenas isso.
Mais parece um saco deliberadamente roto, pois enche-se por um lado e cai de novo por outro buraco propositadamente aberto. Claro que com consentimento e acordo mútuo.
A formação de uma opinião pública africana forte é sem dúvida premente e fortalecerá os estados democratizando-os e fazendo-os cumprir com as suas obrigações. A sociedade civil sairá fortalecida.
Fazem falta mais entrevistas aos profissionais da medicina, do ensino, da engenharia civil, da arquitectura, das ciências, das letras, das artes, do desporto, dos transportes, das telecomunicações e de outras áreas consideradas vitais para o desenvolvimento na comunicação social. Será objectivamente mais um contributo para o tal desenvolvimento sustentável de que tanto se fala e pouco se vê.
Urge portanto, na imprensa escrita e na comunicação social em geral que noticiam África um contributo maior e diferente para que haja mudança de mentalidades (cá e lá). E de preferência com vozes divergentes, opostas e não necessariamente hostis e que se reencontrem na diferença convergentes no objectivo último e comum de servir o genuíno desenvolvimento de África e da sua integração definitiva na economia global em posição de igualdade com os outros pares.
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