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Sexta-feira, Novembro 1, 2024

Muito além do salário mínimo: pandemia reforça luta por salário digno

Na Europa e nos EUA, governos, empresas e sindicatos começam a debater iniciativas em prol da adoção de um salário suficiente para cobrir as necessidades básicas do trabalhador, incluindo alimentação e moradia.

A segunda onda da pandemia de Covid-19 fragilizou ainda mais a situação da classe trabalhadora. Com o avanço do novo coronavírus, a população de baixa renda ao redor do mundo está tendo de arcar novamente com a maior parte do impacto das medidas de confinamento, como os custos do trabalho remoto, a redução de salários e a perda de direitos. Em resposta, governos, empresas e sindicatos começam a debater, na Europa e nos Estados Unidos, iniciativas em prol da adoção de um salário digno, suficiente para cobrir as necessidades básicas do trabalhador, incluindo alimentação e moradia.

Exemplo desse movimento partiu da Irlanda, onde o premiê Micheál Martin anunciou que, mesmo com a crise econômica, seu governo pretende aumentar o salário mínimo em 20%. O caso irlandês reacendeu as discussões sobre se os países devem elevar os salários para dar mais estabilidade a suas economias em meio à pandemia.

Segundo Martin, o aumento tem por objetivo enfrentar a crescente desigualdade de renda. “Há uma mensagem clara vinda da Covid, que expôs a dualidade da economia irlandesa em termos de trabalhadores de baixos salários”, disse Martin, durante a tradicional entrevista de Natal do premiê na Irlanda. “É preciso considerar não apenas um salário mínimo – mas um salário digno, que realmente lide com essa questão.”

Martin sugeriu elevar o atual salário mínimo de € 10,10 por hora para € 12,30. O novo valor, a seu ver, seria capaz de cobrir todas as necessidades básicas dos trabalhadores, garantindo sua dignidade – daí o termo “salário digno”.

Nos últimos meses, algumas redes de supermercado e outras empresas privadas na Europa passaram a pagar o chamado salário digno, em vez do salário mínimo, para manter seus funcionários. Mas muitos empregadores ainda usam o salário mínimo como base de sua remuneração. Conforme um estudo no Reino Unido realizado pelo centro de estudos Resolution Foundation, metade dos trabalhadores da saúde recebe menos do que salário digno calculado pela Living Wage Foundation.

A demanda pelo salário digno também ganha força nos EUA. Na eleição de novembro, a Flórida realizou um plebiscito sobre a elevação do salário mínimo estadual de US$ 8,56 para US$ 15 por hora a partir de 2026. A mudança foi aprovada por mais de 60% dos eleitores. Ao todo, 24 estados e 28 cidades ou condados dos EUA fizeram planos para elevar o salário mínimo em 2020. O presidente eleito, Joe Biden, fez da adoção de um salário mínimo federal de US$ 15 por hora uma prioridade de seu governo.

Segundo o centro de estudos Brookings Institution, de Washington, há uma proporção crescente de americanos defendendo o aumento dos salários mínimos de trabalhadores que mantiveram a economia em funcionamento durante a pandemia, como caixas de supermercado e motoristas de entregas em domicílio. Pesquisa de agosto da instituição mostra que 70% eram a favor do aumento do salário mínimo.

“A pandemia trouxe um doloroso vislumbre da luta dos trabalhadores de baixos salários e tornou mais premente a questão do aumento dos salários”, destacou a Brookings em relatório. “Os trabalhadores de baixos salários sofreram o pior impacto da perda de empregos com a pandemia, resultando no aprofundamento das dificuldades financeiras, aumento da insegurança alimentar e dificuldades cada vez maiores para pagar contas e aluguel.”

Alguns estudos, incluindo um do Center on Wage and Employment Dynamics, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, indicam que o emprego não sofre impactos significativos decorrentes do aumento do salário mínimo. Em alguns casos, salários mais altos podem ajudar a reter funcionários e reduzir os custos de contratação em atividades nas quais os custos podem ser repassados aos consumidores.

Mas salários mais altos não servem de proteção a empregos perdidos na pandemia, apontam especialistas. Enquanto alguns países subsidiaram os empregos para manter os trabalhadores na ativa, outros viram taxas de desemprego decolarem. Muitos dos empregos perdidos foram de baixos salários, incluindo os de um número muito maior de pessoas negras e de origem hispânica. Em abril, pior mês de demissões nos EUA, o desemprego no setor de hotelaria e lazer chegou a 39% e o do varejo a 17%, somando cerca de 8 milhões de pessoas.


Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

 

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