Mesmo sendo nós herdeiros de culturas tão determinantes e determinadas como a hebraica, que, com gregos, romanos, muçulmanos e, mais tarde, africanos, ditaram a formatação a partir da qual evoluímos, sabemos muito pouco de Israel e menos do que ali os diversos grupos religiosos e políticos determinam em termos ideológicos e institucionais.
Sem grande destaque, embora merecesse abertura de jornais de todo o tipo, a notícia de que Israel acaba de autorizar mulheres e homens a rezarem juntos no Muro das Lamentações, é de profunda dimensão e de grande importância.
Olhando os detalhes, trata-se de uma decisão política, aprovada, apesar da oposição dos membros dos partidos ultra ortodoxos Shas e Judaísmo Unido da Torá, além dos ministros do conservador Likud, Ze’ev Elkin, e do Lar Judaico, Uri Ariel.
Outros pormenores estão na imprensa local e o regozijo dos que lutam pela igualdade de género e pela liberdade religiosa, a que defende a possibilidade de culto ou mesmo da sua recusa, abunda nas redes sociais e chega ao nível de interpretação académica – a Área da Ciência das Religiões da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, em que o Núcleo de Investigação Nelson Mandela é reduto e a partir da qual labora, não constitui exceção.
Para que esta decisão política tenha continuidade, criou-se uma nova esplanada de rezas na frente do Muro das Lamentações. Para os que não sabem, esse é o lugar mais sagrado do judaísmo. A abertura desse espaço permite que homens e mulheres possam rezar juntos. Não é uma raridade nem um ato excecional, já que é uso frequente nas sinagogas, das conservadoras às reformistas do judaísmo. O Muro, antes desta decisão, era controlado pela corrente ultra ortodoxa, idólatra, de extrema direita e considerada irredutível nas suas convicções. As rezas eram separadas em dois locais bem determinados, duas esplanadas divididas por uma pequena cerca.
A rabina Susan Silverman, membro da junta Mulheres do Muro (membro destacado entre outras mulheres como Anat Hoffman, também dirigente deste movimento e uma das mais reconhecidas internacionalmente), o grupo de ativistas da corrente reformista que luta pela liberdade de culto nesse local há 20 anos, é citada na imprensa internacional: “Estamos aqui para romper com os ídolos e entender que Deus é infinito, com o qual todos nós temos uma relação”, disse ela, comemorando a decisão.
O novo local situa-se a poucos metros dos outros dois já existentes há muito, ortodoxos, e será administrado por uma comissão mista com representantes das correntes conservadora e progressista, delegados do governo, das Mulheres do Muro e da Agência Judaica, o órgão que administra as relações com os judeus da diáspora.
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