O Hotel de Bilderberg, cuja construção tem cerca de um século, foi erigido junto da floresta de Bilderberg, virado para um ambiente de natureza e tranquilidade, na periferia de uma pequena localidade, Oosterbeek, nos Países Baixos, não longe de Arnhem e da fronteira alemã. Foi talvez por isso que ele foi escolhido em 1954 para o lançamento do Clube de Bilderberg.
Numa das suas mais famosas citações, Adam Smith diz-nos que:
‘É raro que pessoas que exercem a mesma actividade se encontrem, mesmo numa festa ou diversão, sem que a conversa acabe numa conspiração contra o público, ou uma maquinação para aumentar os preços. É, de facto, impossível impedir tais reuniões através de uma lei que pudesse ser posta em prática e fosse simultaneamente compatível com a liberdade e a justiça. Mas, ainda que a lei não possa impedir que pessoas que exercem a mesma actividade de vez em quando se reúnam, ela não deverá facilitar em nada tais reuniões e muito menos torná-las necessárias’
(A riqueza das nações, primeiro volume, capítulo X, salários e lucros nos diferentes usos de trabalho e capital, parte II, p.280 da edição portuguesa da Fundação Calouste Gulbenkian de 1980).
Adam Smith – um dos ódios de estimação de Karl Marx – é, no entanto, um escritor genial e um observador de grande mérito que, contrariamente à convicção generalizada, toma partido pelo trabalho contra o capital, como se pode entender, por exemplo, nesta citação com que abro estas notas.
O Hotel de Bilderberg, cuja construção tem cerca de um século, foi erigido junto da floresta de Bilderberg, virado para um ambiente de natureza e tranquilidade, na periferia de uma pequena localidade, Oosterbeek, nos Países Baixos, não longe de Arnhem e da fronteira alemã. Foi talvez por isso que ele foi escolhido em 1954 para o lançamento do Clube de Bilderberg.
O Clube de Bilderberg deve a sua notoriedade ao facto de ter sido o primeiro – ou em todo o caso, o primeiro com tantos notáveis – destes pontos de encontro que assumiu uma dimensão regular e supranacional, tendo servido de tema para a montagem de incontáveis teorias da conspiração que, partindo do inevitável senso comum magistralmente exposto por Adam Smith com que começámos esta crónica, partem para as mais extravagantes conclusões.
Desde as vulgares regras de ‘Chatham House’ – normas standard de confidencialidade que terão sido primeiro criadas por este clube britânico de relações internacionais nos anos 1920 – transformadas em singulares regras de segredo, até aos mais anódinos pormenores, tudo serviu para fazer do clube um governo mundial secreto, algo de bastante mais importante que algum dia ele foi.
O Clube de Bilderberg está irremediavelmente remetido a um papel secundário desde que Davos o eclipsou. O mais interessante deste eclipse não estará tanto na substituição da floresta de Bilderberg pelos Alpes suíços, mas mais em que, com Bilderberg, os ex-ministros terem sido o chamariz à reunião dos homens de negócios, e hoje serem estes últimos os que servem de atracção aos dirigentes políticos. Pior, são mesmo os primeiros, de forma por vezes arrogante, que ditam publicamente ordens aos primeiros.
A ‘conspiração contra o povo’ para o perigo da qual nos advertia Adam Smith, é óbvia, e houve mesmo quem proibisse esse tipo de reuniões pelos perigos que elas encerram, como algumas das ‘State Sunshine Laws’ dos EUA, embora, como ele tenha previsto, essas leis não conseguem impedir as conspirações plutocráticas.
A opinião pública, nomeadamente a conservadora, vira-se contra este estado de coisas tomando-a como ‘conspiração globalista’. Seria estranho que no nosso mundo globalizado essas conspirações não assumissem também um figurino global, pelo que querer acabar com a globalização para lhes pôr fim me parece desprovido de sentido.
A plutocracia tem minado cada vez mais a democracia, e o Clube de Bilderberg foi apenas um passo nesse caminho. Estou convencido que fazer da globalização, da sociedade de informação (e desinformação) ou de qualquer outra coisa semelhante o problema, é erar a pontaria. Claro que a sociedade em que os plutocratas de hoje conspiram é bastante diversa da de Adam Smith em muitos aspectos, mas a questão essencial da sua permanente conspiração contra o povo para seu proveito, não mudou, e é a ela que temos de prestar a máxima atenção.