Para que a água que o Rio transporta deslize tranquilamente, enfrentando quedas abruptas e corrupios inconstantes, é necessário que as suas margens se encontrem limpas. Os açudes tratados. Os regos de usos de consortes devidamente limpos e as regras desses usos, ainda em costume, respeitadas.Só assim um Rio desliza com tranquilidade no meio dos obstáculos com que se vai deparando. Não basta por isso, que o Rio corra. É necessário que corra em leito arrumado.
Não basta definir linhas abstractas de hipotéticas zonas de “leitos de cheias” de forma a permitir descargas abusivas que galgando as margens inundam bens materiais e imateriais dos Homens e destroem a flora e fauna circundante. Os Rios não se compadecem com disputas pessoais porque lhes são alheias.
Como sabemos, os Rios nascem (na sua maioria) em encostas serranas e deslizam por terrenos por si escavados, – mesmo que acidentados -, até ao mar. Uma tarefa árdua que demorou séculos a ser executada. Não foi, por isso, uma tarefa fácil.
Nem sequer os leitos por outras águas abertos lhe serviram de trajecto. Embora, por necessidade conjuntural do declive do terreno em escarpa de vertentes ou outras conjunturas naturais, se torne, por vezes, mais conveniente, por fácil, para aligeirar caminho ao sabor das torrentes oriundas de tempestades momentâneas.
E assim, o seu leito vai engrossando consoante as linhas de água que em si desaguam e se lhe vão juntando para fazerem trajecto comum e no qual já não há separação de águas possível devido a factores naturais orgânicos. Tanto na composição como na aparência.
É, por isso, uma tarefa em que a entreajuda entre todos os seus elementos configura solidariedade comum de forma a levar de vencida os dissabores que inadvertidamente vai tendo ao longo do percurso pelas inúmeras localidades por onde passa.
Um Rio é, por excelência, um ecossistema com vida própria e com vida interdependente nas suas margens e no meio que as rodeiam. Não pode por isso ser vazadouro de detritos que coloquem em causa o seu equilíbrio de sustentabilidade natural. Quando tal acontece o Rio definha e, morre. Leva água, mas não alimenta vida própria.
Tal e qual os povos primitivos que construíam os seus povoados nos locais mais altos para sua defesa. Onde houvesse água e carvalhos, de preferência. Dois elementos naturais, cruciais ao seu sustento.
Que as cidades de hoje se “espraiam” dos prados planos para as encostas em busca de vista sobranceira consoante o grau de dificuldade construtiva. Sempre de local mais fácil para o mais difícil. Do centro para a sua periferia.
Nelas se constroem ecossistemas diversos um tanto ou quanto avulso, em que o sustento se encontra disponível no supermercado mais próximo e a comodidade é condição generalizada, sem regeneração possível, quando a dimensão ultrapassa o razoável e a vida que nelas fervilha asfixia devagar ao sabor das alteração das regras do equilíbrio que quem confunde os poucos anos de vida que tem com o tempo útil de vida do Planeta demonstra irracionalidade gritante.
E, o Rio, sempre presente, será sempre o espelho do poder que gere as populações que em torno de si vivem. Os seus habitats e as envolventes. A vida que no seu seio contém ou quando já a não tem, a morte que tresanda!
Continuará a “debitar” metros cúbicos de águas nascentes, pluviais e outras. Continuará a ser a memória de gerações em tempos distintos e eras diferentes. Transbordará de histórias que nunca contará porque a Humanidade ainda não encontrou a forma de com ele dialogar. Com educação e de forma civilizada.
… Num tempo que dizem de inovação e evolução tecnológica. Do conhecimento. Um conhecimento que não sabe discernir entre o útil e o fútil!