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João de Sousa

Sábado, Novembro 2, 2024

Não dá para entender!

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

Bolsonaro deve ter dito uns palavrões de contentamento neste domingo, ao saber da pesquisa Datafolha segundo a qual 59% são contra a sua renúncia durante o combate ao coronavírus. Não dá mesmo para entender.

Não estou questionando a pesquisa mas a contraditória disposição política de nossa gente diante do presidente que “mais atrapalha do que ajuda”, como acham 51% dos entrevistados pelo mesmo Datafolha.

Como pode a maioria não querer a renúncia de quem está atrapalhando o país na hora mais sombria? A mesma pesquisa apurou que apenas 37% desejam a renúncia, já pedida pelos principais líderes da oposição e cogitada dentro do próprio círculo do poder bolsonarista. Uma minoria de 4% não têm opinião.

Como pode a maioria não querer a renúncia que livraria o país de sua segunda maior ameaça, se ao mesmo Datafolha 76% disseram aprovar a ação do ministro da Saúde, que Bolsonaro ameaça e humilha em praça pública, contra apenas 33% que aprovam as atitudes dele – o que já é uma loucura, tamanha aprovação a tantas loucuras que Bolsonaro vem cometendo.

Como podem 52% acreditar que ele “tem condições de seguir liderando o país”, quando ele já não governa de fato. No Planalto o general Braga Netto a agora é o cardeal Richelieu de Bolsonaro, e nos ministérios quem funciona é o Estado, são as carreiras estáveis do Estado, com seus técnicos, diplomatas e gestores. Não é compreensível que para apenas 44% esteja claro algo tão óbvio, a perda das condições de governar por Bolsonaro.

Pesquisa é pesquisa, mas são informações como estas, afora a atividade das milícias digitais bolsonaristas nas redes, que intimidam e inibem aqueles que continuam lavando as mãos, hesitando em dar algum passo para livrar o Brasil de Bolsonaro.

O amanhã é incerto, o que vem depois da pandemia são dias amargos, com uma baita recessão castigando o país, Estado quebrado, desemprego sem precedentes, pobreza campeando na cidade e no campo. E será muito pior se tivermos que enfrentar os anos DC, depois do coronavírus, com Bolsonaro na Presidência. Não tendo estado à altura do enfrentamento da pandemia, muito menos estará apto a liderar o país no que virá em seguida.

Para ele está tudo bem. Bolsonaro busca o caos social durante a pandemia para ter o pretexto e impor o regime autocrático, ditatorial que nunca deixou de perseguir. Se o caos social for evitado, apesar do presidente, e as dores se limitarem à questão sanitária, ele também o buscará depois que a pandemia passar, pela mesma razão. Tudo que Bolsonaro faz é calculado com este objetivo: criar as condições para a imposição de seu projeto autoritário.

E o que é pior: Mauro Paulino, diretor do Datafolha, explicou em artigo que o apoio dado a Bolsonaro vem, sobretudo, dos pobres que ganham entre 2 e 4 salários mínimos. Dá vontade de chorar.


Texto original em português do Brasil



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