Este Domingo, os portugueses tiveram a possibilidade de ir às urnas eleger um novo governo. No mesmo dia, tiveram também a possibilidade de ir ver o União da Madeira contra o Benfica – que acabou por ser adiado devido a condições meteorológicas adversas – o Braga frente ao Arouca, o Porto perante o Belenenses ou ainda o Sporting a medir forças com o Vitória de Guimarães. Tiveram-nas, em simultâneo, pela primeira vez em 41 anos de democracia.
A Liga Portuguesa de Futebol Profissional agendou quatro jogos da sétima jornada do principal escalão do futebol português para o dia das eleições legislativas, cenário nunca antes visto em Portugal e que gerou incompreensão por parte da Comissão Nacional de Eleições. João Almeida, porta-voz da CNE, afirmou mesmo que temia que estes jogos pudessem contribuir para a abstenção.
A verdade é que expressões como “hoje não dá, joga o Benfica”ou o uso de hashtags como “#DiaDeSporting”, juntaram-se à lista de desculpas habituais para não se votar: “eles são todos iguais”, “não conheço os programas”, “esteve a chover”, “estava sem carro e as urnas ainda ficam a 100 metros de casa”. No entanto, não passaram disso mesmo: mais umas desculpas para não se votar.
E uma vez mais, o número de eleitores que optaram por se abster foi inaceitável. Numas eleições num momento crítico da história do país, esperava-se uma adesão bem maior e não se pode associar o número de abstencionistas à parcela insignificante que teve intenção de colorir o Estádio da Madeira, aos poucos que marcaram presença no Estádio Municipal de Braga, aos que optaram por visitar o Estádio do Dragão ou ainda àqueles que preferiram deslocar-se ao Estádio José Alvalade. Isto, mesmo supondo que todos eles tivessem fugido ao seu dever cívico, o que sabemos que não corresponde à realidade.
O problema da abstenção já é crónico e os números constantemente superiores a 30% não se justificam pela realização ou ausência de jogos de futebol. Como também não se justificam por outras actividades de duração semelhante, como idas ao cinema, a concertos, ao teatro, nem mesmo por programas culturais de maior duração como assistir ao “Portugal em Festa” ou ao “Somos Portugal”. O número de horas que as urnas estão abertas e a rapidez com que se preenche o boletim de voto tornam qualquer desculpa deste cariz infundada e, quanto mais não seja, os adeptos de futebol sabem que o seu voto é importante porque as políticas do país refletem-se nas suas carteiras e podem ser decisivas para a compra do lugar anual para assistir aos jogos do seu clube.
“Votar foi um direito que tanta luta deu”
Fora do País, jogadores de futebol ao serviço de clubes estrangeiros não entendem o acto de votar como um exercício de cidadania. Só não votam se não puderem foi o que Jaime Simões, Jorge Rodrigues e Tozé Marreco disseram ao Tornado.
“Penso que todos os cidadãos devem exercer o seu direito ao voto. Devemos ser activos nas escolhas que tomamos para o futuro do nosso país. Eu estou no estrangeiro e no dia 4 irei deslocar-me ao consulado português em Limassol para votar.”
Jaime Simões, defesa de 26 anos ao serviço do Apollon no Chipre
“Gostaria de votar porque, mesmo vivendo fora, sentimos os problemas e progressos do nosso país. Infelizmente não me será possível, pois para o fazer teria que me deslocar à Finlândia, visto que já há três anos que não há embaixada de Portugal em Tallinn.”
Jorge Rodrigues, defesa de 33 anos ao serviço do Kalju na Estónia
“Vou a Portugal votar. Foi um direito que tanta luta deu para se conquistar. Sou da opinião que o exercício de voto tem sempre que ser feito. Não deixo que decidam por mim. Reflito e voto.” Tozé Marreco, avançado de 28 anos ao serviço do Mouscron na Bélgica