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Sábado, Dezembro 21, 2024

Porque não investem os privados: por causa do Euro

Jorge Fonseca de Almeida
Jorge Fonseca de Almeida
Economista, MBA, Pos-graduado em Estudos Estratégicos e de Segurança, Auditor do curso de Prospectiva, geoeconomia e geoestratégia, Doutorando em Sociologia

euro

Sem investimento e renovação dos equipamentos o país atrasa-se, a produtividade estagna, o emprego definha, a pobreza cresce.

Alguns patrões alegam que a razão por que não investem se prende com a composição partidária do governo, afirmando despudoradamente que só o fariam se o país estivesse sob governo do PSD. Estes patrões assumem assim frontalmente um boicote ao actual governo. É grave. Configura o crime de sabotagem económica que em muitos países é severamente punido.

Mas tirando um pequeno grupo de empresários ideologicamente motivados a grande maioria dos investidores move-se por razões económicas.

As razões da falta de investimento em Portugal são, pois, outras e radicam nos constrangimentos da nossa participação no Euro que se materializam em:

• Rarefação do crédito bancário;
• Elevado endividamento das empresas;
• Apostas erradas no destino das exportações;
• Baixo investimento público.

Na verdade a participação no Euro obriga a uma subordinação a um conjunto de regras orçamentais que impedem o investimento público mas também a uma regulamentação bancária restritiva que condiciona a rápida reestruturação bancária.

Bancos sem capital suficiente que lhes permita aumentar o volume de empréstimos de forma sustentada não são o suporte creditício que a economia e as empresas precisam, antes se tornam poderosos travões ao desenvolvimento económico. A drástica redução do crédito bancário nos últimos anos é um dos fatores principais da insuficiência de investimento. Por isso temos defendido a passagem da Banca para a esfera pública para que possa ser eficazmente capitalizada e possam os Bancos retomar a sua função creditícia.

A nacionalização da Banca é uma peça essencial de uma política de expansão económica que Portugal hoje necessita para sair da estagnação em que a entrada no Euro o mergulhou.

O elevado endividamento impede muitas empresas de investir, uma vez que os resultados devem ser aplicados preferencialmente no pagamento de encargos com a dívida e não reinvestidos na produção. Um processo inflacionário moderado poderia resolver este problema, mas a pertença ao Euro não o permite.

O governo Passos-Portas/Cristas apontou às empresas e empenhou-se fortemente em o fomentar, destinos desastrosos para as exportações portuguesas. Estes países depois do pequeno boom de compras às empresas portuguesas, que muitas vezes não chegaram a pagar, travaram a fundo as suas importações deixando as empresas portuguesas que investiram nesses mercados com fortes prejuízos. Um caso flagrante é o de Angola. As viagens na comitiva de Portas foram ruinosas ou inúteis para muitos empresários.

Esta política de fomento de destinos desastrosos de Pasos-Portas/Cristas foi condicionada pela pertença ao Euro. Aí radica a preferência pelas exportações em detrimento do mercado interno para a colocação de produtos. Acresce que o Euro, e o seu câmbio desajustado da realidade portuguesa, impede também um país como Portugal de competir em muitos mercados mais interessantes e empurra-nos para mercados mais voláteis e perigosos.

Por último, as restrições orçamentais impostas aos países da Eurozona estão a travar o investimento público e este condiciona em muitas áreas o investimento privado. Quando o Estado decide construir um aeroporto, uma via de caminho-de-ferro rápida, um hospital, uma escola, a par do investimento público surge o investimento privado das empresas de construção, das empresas que fornecem os materiais necessários, das empresas que podem aproveitar as novas infraestruturas. Hoje no mundo é o investimento público que é o maior gerador de investimento privado.

Em conclusão, neste momento o que está a travar o investimento é, essencialmente, a pertença à zona Euro. Vários economistas de renome, laureados Nobel, o têm dito.

Portugal tem de iniciar uma discussão séria sobre este tema sob pena de renunciarmos ao nosso futuro e ao dos nossos filhos. O resto é demagogia e uma dolorosa perca de tempo.

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