Participámos, há dias, num encontro quantificado pelos temas da Paz, seminário internacional com intervenções de grande qualidade, importantes, dignas de reflexão. Não o destacamos agora pela sua natureza, mas por um episódio, resumido numa das frases proferidas por uma das intervenientes, apontando o dedo a Portugal de um modo delicado e suave, todavia intenso. Éramos o país anfitrião do acontecimento, esclareça-se. “Estou admirada por não ter ouvido, ao longo destes dias, falar de António Guterres, o português que está no topo do mundo e sobre o qual recaem as atenções de tantos milhões de pessoas”.
Pensando bem, não somos muito pródigos nos elogios a quem entre nós se destaca e que esquecemos facilmente, o que merecia um estudo aprofundado do comportamento médio daqueles que somos.
Guterres esteve há dias na República Centro-Africana. Não notámos qualquer movimento jornalístico português em torno da ação do secretário-geral das Nações Unidas quando, afinal, esta visita foi dos principais acontecimentos da semana. Alguns canais de televisão deslocaram jornalistas para a porta de uma clínica espanhola onde nascia a filha de um jogador de futebol. Não soubemos nada de Guterres na sua viagem, mas vimos com pormenor a porta da clínica, fechada e com uma fraca luz de presença acesa ao fim da tarde.
Guterres tem desafiado o mundo para o diálogo. O mundo está emudecido, apesar de gritar de forma ruidosa. E está confuso, cada vez mais inculto e impreparado para os grandes desafios que enfrenta. Entre outros temas prioritários, António Guterres avisa-nos que a “Estratégia de combate ao terrorismo deve privilegiar a defesa dos direitos humanos”.
Sabemos que a defesa dos direitos humanos não é uma simpática metáfora para países ricos. É uma expressão que não faz qualquer sentido para mais de metade da população mundial, mas que se impõe estabelecer como meta para todos.
Declaração Universal dos Direitos Humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos comemora os seus 70 anos de reação, em 2018. O Núcleo de Investigação Nelson Mandela vai associar-se à evocação. O mundo mudou, nestes 70 anos, e para pior em quase todos os locais. Em 1948, as feridas das guerras mundiais estavam muito abertas. Agora, as feridas quotidianas exigem uma nova política de cooperação internacional e de uma maior prevenção.
É isso que António Guterres tem vindo a repetir.
Há dias, já em Londres, numa palestra organizada pela SOAS University of London – umas das mais prestigiadas do Mundo, a SOAS é a instituição líder mundial para o estudo da Ásia, África e Médio Oriente – falou da urgência de uma “estratégia global inteligente e abrangente de combate ao terrorismo que aborde as causas profundas do extremismo violento”, disse ainda que “o terrorismo moderno está a ser travado a uma escala e a uma extensão geográfica completamente diferentes. Nenhum país pode reivindicar ser imune. Tornou-se numa ameaça sem precedentes para a paz, segurança e desenvolvimento internacionais”.
Aliás, o discurso tinha como título “Luta contra o terrorismo e direitos humanos: vencer a luta preservando os nossos valores”. Para António Guterres são pelo menos cinco as prioridades: maior cooperação internacional; maior prevenção; defesa dos direitos humanos e do estado de direito; combate do extremismo com argumentos inteligentes; e dar voz às vítimas do terrorismo.
No ano passado, disse então António Guterres, registaram-se pelo menos 11 mil ataques terroristas em mais de 100 países, resultando em mais de 25 mil mortes e 33 mil pessoas feridas.
Esquecer o secretário-geral da UNU é esquecer o Mundo. E esquecer o Mundo é anular a memória de cada um de nós.
António Guterres avisa-nos que a “Estratégia de combate ao terrorismo deve privilegiar a defesa dos direitos humanos”
Prioridades de Guterres
1 Maior cooperação internacional
2 Maior prevenção
3 Defesa dos direitos humanos e do estado de direito
4 Combate do extremismo com argumentos inteligentes
5 Dar voz às vítimas do terrorismo
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90