Não te rendas, ainda estás a tempo de alcançar e começar de novo,
aceitar as tuas sombras, enterrar os teus medos,
largar o lastro, retomar o voo.
Não te rendas que a vida é isso: continuar a viagem,
perseguir os teus sonhos, destravar os tempos,
arrumar os escombros, e destapar o céu.
Não te rendas, por favor, não cedas, ainda que o frio queime,
ainda que o medo morda, ainda que o sol se esconda, e se cale o vento:
ainda há fogo na tua alma, ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque a vida é tua, e teu é também o desejo,
porque o quiseste e eu te amo, porque existe o vinho e o amor,
porque não existem feridas que o tempo não cure.
Abrir as portas, tirar os ferrolhos, abandonar as muralhas que te protegeram,
viver a vida e aceitar o desafio, recuperar o riso, ensaiar um canto,
baixar a guarda e estender as mãos,
abrir as asas e tentar de novo, celebrar a vida e relançar-se no infinito.
Não te rendas, por favor, não cedas:
mesmo que o frio queime, mesmo que o medo morda,
mesmo que o sol se ponha e se cale o vento,
ainda há fogo na tua alma, ainda existe vida nos teus sonhos.
Porque cada dia é um novo início,
porque esta é a hora e o melhor momento.
Porque não estás só, por eu te amo.
Mário Benedetti (1920-2009)
Nota da Edição
Mario Benedetti, «poeta do compromisso, do amor e da alegria», como é definido por Juan Cruz, José Saramago considerou-o «um amigo, um irmão». Em Portugal, a Cavalo de Ferro publicou dois dos seus romances: A Trégua e Obrigada pelo Lume.