Acredito cada vez mais na cegueira. Na surdez. Na crosta seca da cabeça a leste abençoando-se no mar mais escuro da vida beber o silêncio dos que se recusam a conversar.
Que seria de mim se não tivesse nascido? Porque existem perguntas ao fundo de um túnel qualquer, escuro, quantas são as vezes em se consegue vislumbrar a tal luzinha tantas vezes ditas escritas sei onde e para quê.
Não acredito na verdade, sim, encontro-me efectivamente deslocado desse lugar de sonhos imaculados como berços de reféns e pronto, imagino-me numa maresia que me vai afundando e ainda assim remo, mesmo sem remos, contra a ostracização neste meu corpo de marfim feito num azerbeijão amarelado tantos os beijos de ventos, tudo seco e frio, que é feito da água de londres onde me banhava de raivas coladas na pele obtusa e sim, penso, por isso desisto de me aceitar vivo, acredite Helena, são estas as minhas cadenas obscenas, acredite Helena.
Porque razão nos recusamos em conversar? De que é composto o nosso cérebro?
Não sei e recuso-me em saber. O meu ninho guarda e protege animais de estimação. Goivos, não, não só goivos, existem pintassilgos de mais, sabes? Árvores camufladas disfarçam fraldas e num instante e sem alma torno-me o regente e agente dos sapatos descalços que alço porque obedecem cegamente, servos e leigos, voam alturas rasteiras num infinito cego, sim, a morada do negacionismo cognitivo, acredite Helena, cansado e farto, não, talvez nem saiba o significado real dessa coisa palavrada tipo lavra e do rio gota nenhuma e a ceifa ali, imagem e deprimente, existe afinal aquilo que nunca se viu.
Que seria de mim se tivesse morrido? Existem perguntas como eu queria? Mas porque razão fazia perguntas a quem sabia desde logo não obter resposta, não, respostas todos tiveram. Acredito cada vez mais na cegueira. Na surdez. Na crosta seca da cabeça a leste abençoando-se no mar mais escuro da vida beber o silêncio dos que se recusam a conversar.