Um documentário simples e corretíssimo, “What happened, Miss Simone?” está na Netflix e com produção dessa empresa. É o que se poderia pedir de melhor para assim mostrar quem foi essa cantora popular norte-americana Nina Simone. A direção é de Liz Garbus. Entre os entrevistados estão George Wein, Lisa Simone, Dick Gregory, Sammy Davis Jr. e Walter Conkrite.
O importante é que fizeram realmente um filme não para mostrar uma ‘estrela’, mas uma notável cantora popular norte-americana de nível máximo internacional. Mas com a simplicidade de mostrar a verdadeira realidade da canção popular jazzística e fugindo ao aspecto ligado ao marketing. Mostraram totalmente a artista cantora pianista criadora e também uma cidadã ligada às lutas sociais contra o racismo e outros preconceitos.
Seria fundamental que as biografias cinematográficas sempre seguissem esse princípio, a fim de mostrarem não o lado marqueteiro, mas o que há de ligação com a verdadeira arte. E principalmente se tratando de uma figura da maior autenticidade como foi Nina Simone.
Olinda, 18. 08. 22
Mais sobre Nina Simone
O nome artístico Nina Simone foi escolhido talvez por algum europeu, pois o Nina vem de pequena e Simone da atriz francesa Simone Signoret. Se quisermos, podemos buscar muitos detalhes significativos nessa biografia “What happened, Miss Simone?”, que foi produzida pela plataforma Netflix. Afinal, é uma biografia produzida por uma indústria cinematográfica, mas mostra ter havido um clima de total liberdade na sua concepção. A indústria cultural pode ter momentos de produção onde podem se mostrar até mais liberal do que as produções independentes, em raras oportunidades de válida inteligência dos seus dirigentes. O mundo do capitalismo afinal também pode utilizar a inteligência, e isso é bom sem dúvida para todos nós humanos.
Na primeira vez, eu assisti a esse “What happened, Miss Simone?” todo em inglês. Mas nessa segunda visão, vi com uma dublagem em italiano e só os momentos de canto de Nina Simone é que eram em inglês. Ao mesmo tempo em que estava revendo essa obra, estava também praticando o ouvir o italiano, que é um idioma da minha preferência, depois do português. E pude gozar o ouvir dessa seleção extraordinária de canções cantadas e interpretadas também ao piano pela extraordinária intérprete Nina Simone. Quanto aos detalhes expressos sobre particularidades da vida da cantora, talvez o espectador possa até ser a favor da supressão de alguns momentos.
A equipe técnica que realizou “What happened, Miss Simone?” não foi em nada egoísta no sentido cinematográfico. O cinema foi apenas um simples instrumento para mostrar a história de uma grande artista musical. E afinal uma mulher que era ligada às classes populares dos Estados Unidos, que lia até mesmo Marx e outros autores marxistas, mas não tinha em sua vida pretensões de se mostrar uma intelectual. Aprendia para comandar melhor a sua própria vida e assim foi.
Olinda, 19. 08. 22
A casa das belas adormecidas
Minha admiração pela cultura japonesa me leva a ler livros como este, “A casa das belas adormecidas”, mais de uma vez. Eu tinha lido há uns poucos anos atrás e reli agora. É uma bela novela e na edição em papel deve ter cerca de 200 páginas. Não mais. Seu autor é o escritor Yasunari Kawabata, que em 1968 recebeu o prêmio Nobel de literatura.
Se fosse um autor sem prêmios, o leitor poderia ficar em dúvida quanto ao valor literário de sua novela, pois se não analisarmos bem poderemos pensar se tratar de uma simples novela erótica. Mas é o que não é. Tenho certeza. Embora a estória seja muito simples e a narrativa se fixe numa forma também simples de contá-la, o que realmente temos é um verdadeiro estudo do sexo na velhice. Não um estudo científico e sim uma apresentação através de uma linguagem poética, embora em texto corrido. Kawabata em toda sua literatura me parece que tem uma aproximação com o tema erótico /sexual, porém sem erotismo.
Um fato literário que me atraiu desde que li a novela de Kawabata foi como ela é próxima em sua estória da novela de Gabriel García Márques, “Memórias de minhas putas tristes”. Esse é um livro escrito depois de “A casa das belas adormecidas”, mas que eu li antes do livro de Kawabata. Eu gosto do texto de García Márques. Mas até hoje não entendo como o grande escritor colombiano escreveu algo tão próximo, quase uma cópia do autor japonês. O livro de García Márques é bem mais curto. E o de Kawabata é mais desenvolvido. Um fala numa garota, e Kawabata em quatro visitas do personagem Eguchi à casa das “belas adormecidas”.
Tanto “Memórias de minhas putas tristes” quanto “A casa das belas adormecidas” são uma agradável leitura para aguentar a quarentena.
Olinda 01. 04. 2020
por Celso Marconi, Crítico de cinema mais longevo em atividade no Brasil. Referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8 | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado