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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Notas aos atentados de Paris

José Mateus
José Mateus
Analista e conferencista de Geo-estratégia e Inteligência Económica

JMCS by Alex Bordalo (5)A dimensão quantitativa da operação terrorista levada a cabo em Paris, na noite desta Sexta-Feira, 13, revela a ascensão do terrorismo islamista a um patamar organizativo até agora desconhecido em qualquer país do Ocidente. Nada a ver com “lobos solitários” ou “células adormecidas” ou mesmo um simples comando infiltrado (como, por exemplo, o que executou o “11 de Setembro” nos EUA).

Uma operação desta envergadura implica a presença directa e no terreno de, pelo menos, 2 a 3 dezenas de terroristas. E implica um “back-office” de dezenas de pessoas a trabalhar durante meses para a operação (mesmo que cada uma não saiba nem suspeite para o que trabalha, dada a compartimentação estanque da organização).

Mais. A dimensão e a complexidade da operação (com uma multiplicidade de objectivos e de alvos) implicam um tempo de maturação e um espaço de ensaio das manobras a executar (nada a ver com o atentado cego de Bombaim ou com o objectivo simples e o alvo “soft” do Charlie Hebdo).

Dado o dispositivo de segurança, há meses, em vigor em Paris e a qualidade dos homens e mulheres a que esse dispositivo está entregue, o espaço de maturação da operação dificilmente pode situar-se em Paris ou até mesmo em França.

Assim como, dada a tradicional eficácia francesa na intercepção de comunicações e a sua capacidade de detecção de movimentos de islamistas (a seguir ao “11 de Setembro” equipas da CIA e do FBI vieram a França aprender o que era, então, o terrorismo islamista e como lidar com ele…), também parece muito difícil que durante o tempo de maturação e ensaio da operação a França tenha sido tocada pelos implicados na operação.

De facto, a segurança francesa já tinha, nos últimos anos, travado e desmontado vários atentados terroristas (alguns no último quarto de hora…) mas, como mais do que uma vez avisaram altos responsáveis da “inteligência” de Paris, o risco era alto de, em breve, um desses atentados ter êxito.

Mais do que xenofobia, este é um intolerável racismo radical e extremo que demonstram os executantes destes atentados. Eles massacram dezenas ou centenas de pessoas apenas porque elas não são islâmicas. Tal como os nazis massacravam pessoas apenas por não serem “arianas”.

De um ponto de vista político, estes atentados significam um momento de viragem em toda a Europa e são, no imediato, um “cadeau a Marine Le Pen” que teve aqui talvez o que lhe faltava para assegurar a sua vitória nas próximas eleições…

Como sempre, a ficção antecipa a realidade (mesmo se a realidade pode ultrapassar a mais desbragada ficção). No seu romance “Operação Negócios Privados”, Paulo Reis descreve ao pormenor um atentado islamista no estádio da Luz, onde o primeiro-ministro assiste a uma “final” europeia. E descreve ao pormenor como a personagem central do romance, “o Velho”, consegue fazer, nos últimos minutos, capotar o atentado…

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