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Sábado, Novembro 2, 2024

Notas soltas sobre o cinema… e não só

José M. Bastos
José M. Bastos
Crítico de cinema

É suposto que o autor destas linhas partilhe com os leitores do Tornado algumas prosas sobre cinema. Sobre os filmes, os actores, os realizadores, os festivais, enfim, algo minimamente estruturado. Desta vez falo-lhes, de um modo pouco trabalhado, de manifestações culturais que já ocorreram, e de outras que estão para vir. Falo-lhes de cinema, de poesia, de música, às vezes de mais do que uma dessas áreas. E também de cinema na prisão!…Usando da Liberdade que há dias comemorámos de forma especial, na última semana fiz-me vagabundo por terras do Alto Minho.  Que me perdoem os “vagabundos verdadeiros”- eu andei de automóvel, comi em restaurantes e passei momentos de ócio em esplanadas à beira do mar ou dos rios (Minho, Coura e Lima). Contudo, a minha condição de cidadão urbano leva-me sempre a procurar as chamadas “manifestações culturais”.

E assim…

“Hair” de Milos Forman…em 21, em Caminha, revi o “Hair” de Milos Forman, recuperado da minha memória de há trinta anos, pela “Locus Cinemae” – Associação de Cinema de Caminha, um grupo de índole cineclubista que já vai em quase trezentas sessões e que para as próximas semanas propõe Woody Allen, John Ford, Rossellini, Cassavetes e Jarmusch. Que tal?

José Rodrigues… em 22, em Vila Nova de Cerveira, a habitual azáfama de todos os sábados, dia de feira. Milhares de visitantes, maioritariamente galegos, numa terra pujante, “Vila das Artes” e de muitas culturas. Terra da Bienal, com a memória de José Rodrigues sempre presente, e os “autóctones” Luandino Vieira e António Oliveira na sua habitual tarefa de dinamização cultural. Pude visitar uma feira do livro na excelente Biblioteca Municipal e assistir ao lançamento de livros.

Realizar: poesia… em 23, em Paredes de Coura tropecei em “Realizar: poesia”. Cinco dias de debates, leituras, apresentação de livros, performances, cinema, música, filosofia, poesia na feira semanal, ateliers… Pedro Mexia, Manuel João Vieira, João Canijo, Manuel Freire, João Paulo Cotrim, Regina Guimarães, Carlos Tê, João Habitualmente, Jaime Rocha, João Paulo Esteves da Silva, Nuno Moura, Tiago Brandão Rodrigues (sim, o Ministro), Vítor Paulo Pereira (um Presidente de Câmara muito especial) foram apenas alguns dos que marcaram presença. Afinal  Paredes de Coura não vive só do Festival de Verão nas margens do Taboão!…

Janita Salomé – O Cravo e a Rosa… na tarde de 24 de Abril, em Ponte de Lima, uma das vilas mais antigas de Portugal cruzei-me com um fluxo turístico assinalável (inúmeros os caminheiros-peregrinos de Santiago) e pude ver o anúncio do espectáculo da noite de 25 no Teatro Diogo Bernardes: Janita Salomé – O Cravo e a Rosa.

Carlos Mendes e a “Festa da Vida”… de novo em Caminha, na noite de 25 de Abril estive com Carlos Mendes e a “Festa da Vida”. Oportunidade de conhecer o Teatro Valadares. Uma plateia de menos de cem lugares e dois andares de frisas e camarotes. Como que um teatro de ópera mas com a dimensão de teatro de bolso. Uma ambiente extremamente acolhedor para um espectáculo intimista com um Carlos Mendes em grande forma, sozinho ao piano, trazendo-nos Joaquim Pessoa, Manuel da Fonseca, José Afonso/Camões, Adriano/Manuel Alegre, Fausto/Viriato da Cruz e muito, muito mais.

Sugestões para o futuro próximo

E depois deste relatório e contas, sugestões para o futuro próximo, em jeito telegráfico que a prosa já vai longa.

Desobedoc 2017No Porto, desde ontem e até segunda, 1º de Maio, o Desobedoc 2017  –  Mostra de Cinema Insubmisso, promovido pelo Bloco de Esquerda. Na abertura o mesmo “Douro Faina Fluvial” de Manoel de Oliveira  que em 1947 inaugurou o Cinema Batalha. No programa muito cinema militante, de Ken Loach a Chris Marker, passando pelos 100 anos da revolução russa, pela abordagem ao trabalho precário e pelo direito à cidade. Neste último ponto dois filmes vindos de Espanha: “Alcaldessa” de Pau Faus, sobre a fundadora da Plataforma pelo Direito à Habitação que foi eleita presidente da câmara de Barcelona e “Cerca de tu casa”, um musical ao estilo de Jacques Demy, com a excelente Silvia Perez Cruz, que aborda a forma como o direito à habitação é comprometido pelas lógicas de mercado – uma homenagem às vítimas da austeridade e às vítimas dos despejos.

“Fátima” de João CanijoHoje, também no Porto, no Cinema Trindade, às 18 horas, sessão especial de “Fátima” de João Canijo, com a presença do realizador e das actrizes Anabela Moreira e Vera Barreto.

O Esqueleto de BaleiaSe estiver no Porto e não quiser ver cinema tem hoje 29 de Abril, e porque é sábado, “Um Objecto e o seu Discurso: O Esqueleto de Baleia”. A sessão, decorre a partir das 18 horas no edifício que foi habitado por Sophia de Mello Breyner Andresen, e onde agora funciona a Galeria da Biodiversidade Centro Ciência Viva – Jardim Botânico: a Casa Andresen, na Rua do Campo Alegre. Nuno Ferrand de Almeida, diretor do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto moderará a conversa entre o professor e dramaturgo Francisco Luís Parreira, com vocação para temas literários e mitológicos envolvendo cetáceos e o biólogo Jorge Palmeirim.

Encontros de VianaEm Viana do Castelo, promovida pela Associação Ao Norte, de 02 a 07 de Maio, a 17ª edição dos Encontros de Viana. Espaço de encontro de cinéfilos e cineclubistas de Portugal e da Galiza, com muito cinema para ver e para discutir e inúmeras actividades paralelas. Deles daremos notícias nos próximos dias.

IndieLisboaEm Lisboa, de 03 a 14 de Maio, o IndieLisboa – 14º Festival Internacional de Cinema Independente. Um dos mais importantes certames do país, infelizmente muito longe para mim que terei que o seguir à distância. Lisboetas e visitantes da capital: não o percam!

Cadeia de Paços de FerreiraE para terminar uma breve referência à bela iniciativa do jornalista Manuel Vitorino que, pelo segundo ano consecutivo, leva o cinema à Cadeia de Paços de Ferreira. O primeiro filme a ser exibido foi “I, Daniel Blake” de Ken Loach. Os próximos serão “Adeus às Armas”, de Franze Borzage, “A Sede do Mal” de Orson Welles e “A Juventude”, de Paolo Sorrentino. Recordo-me de, na minha já longínqua infância, ouvir falar das obras de misericórdia. Entre elas, visitar os presos. Manuel Vitorino acrescentou a este preceito um excelente complemento: mostrar e debater com os reclusos filmes que abordam a dignidade da pessoa humana. Uma acção que merece uma saudação muito calorosa.

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