A próxima visita de Estado do Presidente de Angola é a Moscovo, onde vai reunir-se com Putine. O site especializado CEO Lusófono adianta que “além das relações económicas, a visita de José Eduardo dos Santos à capital russa terá na agenda uma forte componente geopolítica”. O General Leopoldino Fragoso do Nascimento, conhecido em Angola por “General Dino”, destacado decisor angolano muito próximo de José Eduardo dos Santos, encontra-se na capital russa a preparar a visita do Presidente angolano.
Trans-Pacific Partnership, o tratado que muda o mundo
Doze Estados das costas do Pacífico assinaram este mês o Trans-Pacific Partnership, tratado que transfere o centro do mundo marítimo para o Pacífico (coisa que não poderá ser indiferente a um Estado de território arquipelágico, centrado no Atlântico…). Estados Unidos, Japão, Canadá, México, Chile, Peru, Austrália, Nova Zelândia, Singapura, Vietnam, Malásia e Brunei representam mais de 40% do comércio mundial, tornando o tratado que assinaram o de maior alcance económico da história. Mas, talvez mais decisivo e importante, o TPP muda para o Pacífico o centro do mundo marítimo que, desde há vários séculos estava centrado no Atlântico, primeiro sob hegemonia de Portugal e, depois, da Inglaterra e, finalmente, dos EUA, desde a II Guerra. Enquanto o grande afrontamento foi com a URSS, o centro estratégico do mundo marítimo estava no Atlântico unindo as suas margens, garantindo “segurança e desenvolvimento económico”. Nas últimas décadas, a URSS implodiu e a China emergiu com vocação de super potência global. Se o afrontamento com a URSS se fez, sobretudo, no plano militar, com a China tem sido diferente, o campo de batalha é económico. Ora, como diz há muito Obama, “não podemos deixar que a China escreva as regras do futuro”… O TPP aí está como grande instrumento desse “containment”. A Europa, num tal cenário, corre não só riscos de uma fragmentação imparável como também de periferização, de redução a uma periferia… E a combinação destas duas dinâmicas é, obviamente, fatal.
China abaixo da “linha vermelha”
A taxa de crescimento China desceu abaixo da “linha vermelha” (assim definida por Pequim…) dos 7%. Longe vão os tempos do crescimento com taxas de dois dígitos que garantiam o investimento necessário, receitas brutais para o Estado chinês e ainda o necessário para comprar a “harmonia” social. Na última década acentuou-se uma tendência (bem pesada) para sucessivas baixas e, em 2015, mergulhou abaixo dos 7% (oficialmente, 6,9%…), a taxa considerada a mínima para garantir “oxigénio” ao actual modelo chinês. Os restantes indicadores estão em consonância com este…
Marrocos: o “santuário” acabou…
Durante muito tempo livre de ameaças islamistas (quase na posição inversa da Argélia), Marrocos deixou de ser território “santuarizado” e tornou-se permeável ao vírus islamista. As autoridades de Rabat já tiveram de reconhecer publicamente a presença de células activas do “Estado Islâmico”. Ainda recentemente o Ministério do Interior teve de comunicar oficialmente que o seu aparelho de segurança tinha feito abortar “um enorme atentado” e capturado vários terroristas (ligados ao “Estado Islâmico”) e respectivo armamento… Uma “inovação” com graves consequências na nossa fronteira marítima do sul.
A multiplicação dos muros e o regresso das fronteiras…
A avalanche de refugiados, oriundos do Médio Oriente, veio chamar a atenção para um fenómeno de primeira importância mas que tinha conseguido manter-se longe das luzes da ribalta: a multiplicação de muros, barreiras e o regresso das fronteiras. Fenómeno que não é específico da Europa mas sim global (vide mapa do “Courrier International”). Se a justificação óbvia e imediata é o controlo da circulação de pessoas, o impacto e as consequências económicas não vão fazer-se esperar. Emerge uma nova tendência pós-globalização, a fragmentação…?
Putine, o mestre da inteligência geopolítica
Putine revelou-se um mestre a mexer no tabuleiro e a explorar oportunidades e falhas dos adversários. A sua acção estratégica inscreve-se na grande tradição russa. A sua lógica é “westphaliana” e “moderna”, portanto, nos antípodas da lógica “pós-moderna” dominante no Ocidente. A intervenção na Síria não vai ser um caso isolado… Mas o que mais contrasta com as permanentes hesitações e flutuações ocidentais é a frieza, a racionalidade, a rapidez, a determinação e a brutalidade das intervenções do “senhor de todas as Rússias”. Esta é que é a “marca Putine”. O resto é o permanente da geopolítica da Rússia.
A crise atingiu os gigantes da Lusofonia…
E ameaça desestabilizá-los, tanto na vertente económica como na política e isso terá (tem já) consequências (graves) para Portugal. Moçambique, Angola e Brasil viram os seus ciclos de expansão económica prematuramente quebrados pela crise global (queda abrupta do preço do petróleo mas também queda de outras matérias-primas e mesmo da procura global) com acentuadas consequências negativas no poder de compra das populações. A esta conjuntura económica difícil acresce a fragilidade dos equilíbrios políticos (facto natural em regimes muito recentes e ainda pouco experientes). Os próximos tempos vão ser difíceis na Lusofonia mas essa dificuldade pode também ser oportunidade de reforço dos laços entre os Estados da comunidade lusófona se para tanto houver “engenho e arte”.