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Segunda-feira, Dezembro 23, 2024

Notícias que não saem: governo turbina o G20 e a Aliança Global contra a Pobreza

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

Embora não se veja uma notícia na mídia, a presidência brasileira do G20 está em pleno curso e será turbinada na semana que vem, no Rio, por uma série de eventos. Esta semana foi levada a Nova York, pelos ministros Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Marcio Macedo (Secretaria Geral da Presidência), que participaram do Fórum Político de Alto Nível na ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, reunião de ministros de todos os países membros para a prestação de contas sobre as metas da agenda 20-30.

Lá, Wellington Dias dedicou-se a divulgar e articular apoios à construção da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, proposta que é uma das meninas dos olhos de Lula na política externa e talvez venha a ser o principal legado da presidência brasileira do G-20. Cerca de 60 países, segundo o ministro, já demonstraram interesse em integrar a coalizão multilateral que Lula espera construir. A meta é chegar a pelo menos 100. Como a maioria dos países atrasada no cumprimento das metas da agenda 20-30, Dias aponta a aliança como um instrumento que poderá resgatar os compromissos firmados em 2015. Até agora, apenas 17% das metas estariam no rumo certo. – Então aqui fica um convite para estarmos juntos na recuperação dos ODS 2030, de modo especial os Objetivos 1, 2 e 13, através da Aliança Global contra a Fome e Pobreza. De modo que possamos chegar a 2030, olhar para trás e dizer: Eu sou parte de uma geração que venceu a fome e a pobreza no mundo – disse ele a seus pares. Os objetivos 1, 2 e 13 da agenda são, respectivamente, Erradicação da Pobreza, Fome Zero e Combate à Mudança Climática. Para quem não sabe, a agenda 20-30 da ONU trabalha com 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, os ODS, a serem cumpridos pelos países no período 2020-2030. Foi para avaliar o estágio de cada um deles que houve lá, esta semana, o Fórum de Alto Nível.

Para superar os atrasos herdados do governo Bolsonaro, o governo Lula busca agora imprimir maior velocidade na busca de algumas metas e está apresentando também uma “revisão voluntária” de outras, como a do desmatamento.

Em discurso no Fórum, prestando contas do desempenho do Brasil, o ministro Márcio Macedo falou do trabalho que o país vem fazendo na presidência do G-20 e anunciou a criação do G20 Social, uma inovação que o Brasil espera deixar como legado, para que seja levada adiante pelo grupo das 20 maiores economias do mundo. – Vamos fazer uma Cúpula Social entre os dias 14 e 16 de novembro, no Rio de Janeiro, antecedendo a Cúpula dos chefes de Estado. Queremos que, no primeiro dia, haja um debate autogestionado, em que a sociedade civil de todos os países possa discutir e colocar suas necessidades, suas propostas – explicou Macêdo. No segundo dia, seriam tratados os três eixos que orientam a presidência brasileira: o combate à desigualdade, à fome e à pobreza; o enfrentamento às mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável; e a reforma da governança global.

Voltando ao Brasil, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza será lançada no Rio, no dia 24, em solenidade que contará com Lula e Janja, dentro de uma programação intensa do G20.

O Rio sediará também, neste dia, o encontro de ministros das Finanças do grupo, e nele o ministro Fernando Haddad voltará a defender sua proposta de taxação dos bilionários do mundo. Em paralelo, estará ocorrendo o evento “Estados do Futuro”, organizado pelos ministérios da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, das Relações Exteriores, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e do BNDES. Ao longo da semana, entre os dias 22 e 26 de julho, estarão acontecendo debates, seminários e exposições, reunindo uma vasta constelação de atores globais (e também nacionais), vinculados a governos, academia, setor privado e sociedade civil, de diversas áreas de conhecimento e atuação, para “reimaginar” o papel, o formato e ação do Estado diante dos desafios do século XXI. Problemas novos como mudança climática, pandemias, mudanças tecnológicas e nas relações de trabalho, entre outras tantas, dizem os organizadores, exigirão um Estado mais resiliente, eficiente e adaptativo. Tantas cabeças pensantes estarão reunidas para compartilhar suas experiências e propostas neste sentido. A lista é grande mas destaco Antonio Costa, presidente do Conselho Europeu e ex-primeiro ministro de Portugal, Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile e ex-Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Jeffrey Sachs, Professor, Universidade de Columbia, Amir Lebdioui, professor associado da Oxford University, Per Fredrik Pharo, diretor da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento – Norad, James Green, Professor da Brown University, entre muitos outros. E Dilma, pelo Banco dos Brics. Do governo, participam vários ministros e dirigentes de segundo escalão, além dos organizadores Esther Dweck, Mauro Vieira, Geraldo Alckmin e o presidente do BNDES, Aloisio Mercadante. O G20 estará de fato acontecendo no Rio na próxima semana, mas nada disso deve ser notícia na mídia doméstica, seja por seu pouco apreço por política externa, seja porque agendas positivas do governo não despertam interesse. No máximo teremos notícia sobre o que Lula disse no ato de que vai participar.


Texto original em português do Brasil

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