O capítulo seguinte é um dos mais tristes da História das Nações Unidas, que, sob pressão indonésia, tomaram conta da administração da colónia holandesa (1962), acabando, em 1963, por a ceder a Jacarta, com a condição de ser promovido um referendo.A Indonésia tinha então uma grande influência nas Nações Unidas, como um dos países que primeiro se libertara do colonialismo, e o general Sukarno tinha todo o apoio do bloco soviético, enquanto os Estados Unidos procuravam não hostilizar o regime, considerando os seus interesses geoestratégicos e a sua intervenção no Vietnam.
Assim se compreende o quase silêncio com que foi acolhida a “farsa” de 1969, quando Jacarta, em vez do prometido referendo, convocou os chefes tribais da Nova Guiné Ocidental (Papua Ocidental a partir de então) para decidirem o futuro do território. Foi possível averiguar que a maioria desses chefes não tinha qualquer noção do que estava em causa, e que aceitaram a proposta de integração na Indonésia de forma vaga, e até a troco de presentes. Nascia uma nova província indonésia, dotada, em teoria, de alguma autonomia: Papua, depois chamada Irian Jaya e Irian Barat.
Na região oriental da ilha, a administração australiana dava lugar a um estado independente em 1975, com o nome de Papua Nova Guiné, englobando alguns arquipélagos vizinhos (462 840 Km.2 ; um pouco mais de 7 milhões de habitantes em 2013). Este estado tem vindo a ser cuidadosamente vigiado pela Indonésia, dado ser naturalmente um aliado dos movimentos independentistas papuas.
Salvem os papuas na Nova Guiné Ocidental… antes que seja tarde!!
Logo após a instalação das autoridades indonésias, surgiram revoltas e guerrilhas na Nova Guiné ocidental. A repressão foi violenta, e mostrou-se de duas formas: repressão directa (mortes, prisão, tortura, falta de liberdade de expressão) e indirecta (destruição das culturas locais, imigração de inúmeros indonésios, principalmente da ilha de Java, para alterar a composição étnica da população local.
A separação de Timor (1999-2002) foi vista por muitos locais como um sinal de esperança. Em vão. Há poucos anos, o território foi subdividido em duas províncias: Papua ocidental e Papua. Dividir para reinar continua a ser o lema dos opressores.
Nos nossos dias, vivem nos 421 981 Km.2 da antiga colónia holandesa quase 2 milhões de pessoas, contra pouco mais de oitocentos mil em 1969. Todavia, quase metade são imigrantes vindos de toda a Indonésia, desde então. A repressão contra os naturais terá feito um pouco mais de meio milhão de mortos. É quase impossível entrar no território, isolado do mundo em termos de informação. As populações, oprimidas, têm dificuldades até em movimentarem-se de um lado para o outro.
Recentemente, as torturas, assassinatos, intimidações, parecem estar a aumentar. Em proporção, têm crescido os protestos internacionais, não só nos países vizinhos, mas na Europa e América. Refugiados papuas e amigos dos Direitos Humanos excedem-se em protestos e ações simbólicas. Alguns ecos se fazem sentir, aqui e ali.
Entretanto, todo um povo se arrisca a ser eliminado, perante uma apatia que começa a ser criminosa. Será que ter a pele escura e uma cultura materialmente primitiva os condena ao desprezo? É triste ousar exprimir esta reflexão, mas, perante outras reacções tão diferentes diante de violências e genocídios noutras partes do mundo, é-se levado a equacionar a razão do desprezo pela sorte destes povos papuas que parece predominar nos “media” de todo o planeta!