Poemas de Delmar Maia Gonçalves
I
Sempre vivi noites geométricas
mas nunca consegui tê-las simétricas
Umas mais verdes
e outras demasiado cinzentas
A escuridão tomou conta
do espaço que não me pertence.
II
“Eu e o poeta”
Entre mim e o poeta
não há diferença
Eu e ele somos um!
Quando o poeta
fala ,falo eu!
Quando falo eu, fala o poeta!
III
Há silêncio
do silêncio
nas entranhas
do meu silêncio.
IV
Só a palavra
tempera a alma
e adocica a vida!
V
Ram
decidiu exterminar
ovelhas tresmalhadas
lobos disfarçados de cordeiros
quizumbas de sinistros sorrisos
e corvos de mau agoiro
numa estratégica partida de póker no além!
VI
“Mulher L – Desfile no Cais do Sodré”
Ao cair da noite
vislumbram-se predadores nocturnos
divagando em busca de presas fáceis
Estas em polvorosa
desfilam quais gazelas esvoaçantes
com pomposas vestes, corpos curvilíneos
ansiosas de prazer e um punhado de euros.
VII
“Nova Iorque – 11 de setembro”
Se dúvidas houvessem
ficaram dissipadas
com o aumento
da intensidade da escuridão
nebulosa do mundo.
VIII
Era uma vez
enchi o meu coração de pedra
Depois, abri-o
Quando voltei a vê-lo
as pedras estavam inundadas de tudo
meu coração chorava!
IX
“Mulher XVII”
Ao embrenhar-me
no éden do teu corpo
Jamais me senti saciado.
X
Teu corpo
mais o meu corpo
construíram um arquipélago.
XI
“Inventário de mim”
Fiz um novo inventário de mim mesmo
e encontrei um espelho vazio de mim
e cheio de nada.