Contrariamente a muita gente, sou favorável à segregação do trânsito. Os transportes públicos deveriam circular exclusivamente nas faixas BUS, as bicicletas nas ciclovias quando existam, as motas poderiam usar qualquer faixa, etc.
Segurança e fluidez
Para além da segurança, deve haver um objectivo de fluidez do trânsito. Se houver fluidez o ambiente ganha.
As faixas BUS deveriam ser fisicamente delimitadas, com os separadores plásticos usados nas obras, tal como vemos em Madrid. As vantagens são de que uma vez na faixa só se pode sair nas imediações de um cruzamento facilitando a autuação da sua utilização abusiva e impedindo que os transportes públicos atrapalhem o restante trânsito.
Também as ciclovias, quando situadas entre a faixa de rodagem e o passeio, deviam ser fisicamente separadas. Como acontece em Ayamonte. Esta separação impede que as viaturas automóveis estacionem nas ciclovias.
As novas obras de Santa Engrácia que têm suscitado diversas críticas também suscitam aplauso. Prefiro que a cidade seja um enorme estaleiro durante um período limitado de tempo. É menos penalizante do que estar uma eternidade a sofrer com obras aqui, depois ali e assim sucessivamente. Esta solução permite “sofrer” num curto espaço de tempo e depois usufruir das vantagens daí resultantes.
Depois das obras, Lisboa será melhor e mais humana. Todos ganharão qualidade de vida.
Benefícios
Claro que obras desta dimensão e complexidade suscitam sempre opiniões favoráveis e desfavoráveis. O que é evitável é a repetição de erros que indiciam pouco estudo ou preparação. A solução, nestas como noutras situações, consiste em estudar o que de melhor se faz lá fora e construir soluções que contemplem as vantagens e ultrapassem as desvantagens do que se vê.
Um bom exemplo é o do sector bancário que na década de 80 se modernizou copiando o que de bom se fazia no mundo e inovando a partir daí. A SIBS, empresa das caixas automáticas, ainda hoje, passados tantos anos, é uma referência mundial.
Os objectivos que se advinham nas obras em curso são os da devolução da cidade aos cidadãos. É o que se está a passar nas cidades europeias e é um objectivo louvável. Cite-se a título de exemplo a Mouraria: devolvida aos cidadãos, ganhou qualidade de vida, animação e desenvolveram-se os pequenos comércios, restaurantes, cafés, etc.
Há que desenvolver uma política integrada que passa pela acalmia do trânsito, por privilegiar o transporte colectivo em detrimento do transporte particular, por privilegiar modos de deslocação amigos do ambiente etc.
Resumidamente teremos:
- acalmia do trânsito – passa pelo estreitamento das faixas, passagens de peões sobrelevadas, e não rebaixando os passeios nem colocando bandas ou faixas sonoras;
- transportes colectivos – frequentes, cómodos, com malha densa, horários adequados, ligações sincronizadas, preços acessíveis;
- modos de deslocação – amigos do ambiente, como as bicicletas, motores eléctricos, acabar com Tuk Tuks não eléctricos (que apareceram por incúria das autoridades que não regulamentaram atempadamente);
- creches e escolas – acessíveis nos percursos casa-creche-emprego-creche-casa;
- garagens – privadas para retirar carros das ruas, incentivadas com dedução e não agravamento do IMI;
- etc.
Planear
A construção de mais ciclovias merece aplauso e é uma mais valia para a cidade. Será um incentivo para mais gente utilizar a bicicleta como meio de transporte. Devem estar ao nível da faixa de rodagem e não ao nível do passeio.
O nível do passeio pertence ao peão e quando a ciclovia está a este nível potenciamos o conflito entre o peão e o ciclista. Basta ver o que acontece, diariamente, na frente ribeirinha: discussões, insultos, polícia que responde “queixe-se à CML”, etc.
Insistir em construí-las no passeio é um erro que mostra que nada se aprendeu e que não se tiram ilações do que já se fez.
Acresce que a famosa calçada portuguesa é odiada pelos cidadãos e nos casos em que houve oportunidade de implementar uma solução de compromisso, por exemplo na Calçada da Ajuda, colocou-se a calçada no espaço utilizável pelos peões e o piso confortável entre as árvores. Ideia brilhante!
O peão foge a sete pés da calçada portuguesa e ocupa a ciclovia, quando esta existe, para andar, correr, empurrar o carrinho do bébé, o carrinho das compras, etc
Será que os técnicos responsáveis não vêm isto? Será que uma vez concluída a obra ninguém analisa a validade das soluções pensadas e desenhadas nos gabinetes com ar condicionado?
Nas obras a decorrer na Av. Fontes Pereira de Melo deu-se mais um passo em frente nesta deriva: a ciclovia ao nível do passeio, demasiado estreita, passa entre a paragem dos transportes públicos e a faixa de rodagem.
Concerteza que se pretende potenciar o acidente entre o ciclista e o cidadão que quer entrar ou que sai do autocarro. Basta ver como se faz lá fora (não tentar inventar o que já está inventado e funciona): a ciclovia desvia-se para passar por trás da paragem.
As ciclovias de sentido único devem ter largura suficiente para permitir a ultrapassagem de forma cómoda o que parece não se verificar em diversos locais.
Voltarei a este tema da devolução da Cidade aos Cidadãos.