Com Adalberto Campos Fernandes à frente do ministério da Saúde há aspectos essenciais da política deste sector que deverão mudar. O homem escolhido por António Costa para liderar aquela pasta participou, no decorrer da campanha eleitoral, numa iniciativa promovida pelo PS/Algarve, onde deixou algumas pistas sobre o que é possível esperar da sua acção enquanto ministro.
Desde logo, deverá tomar medidas que reforcem a importância dos centros de saúde. Adalberto considera que, actualmente, temos “um problema de dependência hospitalar” e deve-se equilibrar as coisas, o que passa por “tirar um bocadinho aos hospitais e dar um bocadinho aos cuidados de saúde primários”.
Por várias razões. Desde logo, porque os doentes “precisam de proximidade, de cuidados, de afecto”. Depois, porque “os hospitais são sítios perigosos e caríssimos”. Consomem muito mais recursos do que deviam, pelo que “é mais rentável” estimular os cuidados de saúde primários, pois “sei que, por cada doente que retiver aí, gasto menos dinheiro”.
O novo ministro da Saúde não receia que uma das consequências da política que, a este nível, quer implementar, seja que médicos dos centros de saúde passem a ganhar mais do que alguns colegas dos hospitais. Em jeito de “provocação”, Adalberto Campos Fernandes saúda com um “ainda bem” tal possibilidade, e lembra que não seria uma situação inédita, pois “há muitos países em que isso acontece”. Para além de que seria uma maneira de atrair os jovens médicos para os centros de saúde, o que, como se sabe, é, em muitos casos, missão quase impossível.
O que é preciso, diz o ministro de António Costa, é pagar aos profissionais de saúde de acordo com os respectivos desempenhos, de forma a que o serviço que se presta aos cidadãos seja cada vez melhor.
Consigo no Governo, vai cair o projecto de municipalização da Saúde, que o executivo de Passos Coelho estava a implementar. Adalberto Campos Fernandes não deixa dúvidas em relação ao que pensa sobre este dossier, é “totalmente contra a municipalização da Saúde”. A ser levada à prática, ela transformaria para pior o Serviço Nacional de Saúde (SNS), que já se encontra “anémico e semi-destruído”. A municipalização iria fazer com que, em vez de um único SNS, de características idênticas para todos os portugueses, acabássemos por ter “para aí uns 305 Serviços Nacionais de Saúde”.
Isso não significa que o poder central coloque as autarquias completamente à margem do sistema. Pelo contrário, entende que deve haver “articulação” com o poder local, em áreas em que a sua presença no terreno e ligação às populações se revele uma mais-valia.