No último debate entre os candidatos, Maria de Belém procurou encostar Sampaio da Nóvoa a “um frentismo de extrema-esquerda” que apenas conta com os apoios oficiais “do MRPP e do Livre”, pois até o Bloco e o PCP apostam noutros candidatos.
Uma qualificação que é entendida pelo ex-reitor como um sinal de que a sua candidatura “causa um certo incómodo porque ela vem justamente da cidadania e afirma-se com enorme abrangência”. Para além de que conta com elementos de peso, como os três anteriores presidentes da República, dois deles socialistas, e o general Ramalho Eanes sobre o qual ironizou o “extremismo que representa”.
Quanto à candidatura de Maria de Belém, entende que ela surgiu por questões de “divisões internas no PS” e que manifestou sempre “um grande incómodo com este novo tempo que se criou”. Deu como ‘prova’ disso mesmo declarações do mandatário da sua adversária em que alertou para o potencial “enorme desastre” que podiam significar os acordos à esquerda para a formação do governo. A própria Maria de Belém terá “hesitado” muito e só quando tudo ficou praticamente assente “é que veio dizer que daria posse ao governo”, mas nisso já não teve grande mérito pois “acertar no totobola à 2ª feira é muito fácil”.
Maria de Belém retorquiu que “não tive hesitações nenhumas”, apenas deixou que o processo de negociações se desenvolvesse de forma tranquila e, quando ele ficou concluído e o presidente da República não tomou uma posição, “eu disse que ele estava a adiar o inadiável”. Considera que não faz qualquer sentido dizer-se que a candidatura que protagoniza tem qualquer incómodo com o actual governo e António Costa. Até porque alguns dos seus principais apoiantes, como Almeida Santos, Manuel Alegre e Vera Jardim também “apoiaram a candidatura de António Costa à liderança do PS”.
Um dos temas do debate teve a ver com a expressão “tempo novo” que Maria de Belém diz não entender. A pedido da sua adversária, Sampaio da Nóvoa explicou que, quando usa a expressão, está a referir-se ao acordo conseguido à esquerda, o qual permitiu que a democracia tenha deixado de representar “apenas 70 ou 75% e passado a representar todos os eleitores”. E que permitiu também que consigamos, nesta altura, “começar a ter sinais concretos, na sociedade portuguesa, do que é uma política contra a austeridade”. E acha “estranhíssimo” que Maria de Belém “não tenha entendido ainda este tempo novo, que as coisas mudaram muito na sociedade portuguesa, nos últimos meses, e um presidente da República tem de entender estes sinais”.
Maria de Belém respondeu que, para si, o verdadeiro tempo novo foi o 25 de Abril. E que, desde essa data libertadora, “estive nas causas todas em que o PS se envolveu e nunca vi Sampaio da Nóvoa nessas causas”. O contra-ataque do visado envolveu o episódio da apresentação do Orçamento de 2012, que tinha aspectos posteriormente considerados inconstitucionais. Maria de Belém era deputada e “não suscitou a fiscalização sucessiva do orçamento”, o que, na sua opinião, implica que a agora candidata não defendeu como devia a Constituição. Maria de Belém rebateu o argumento com a justificação de que, na altura, tinha produzido declarações e publicado crónicas a considerar que “havia graves inconstitucionalidades naqueles orçamentos”.
Caso seja eleita, Maria de Belém promete dar especial atenção à estabilidade política e a exercer “influência, mas não interferência” na governação do país. E dispõe-se a mobilizar a sociedade para causas como a luta contra a pobreza infantil, a diplomacia científica e o reforço do papel da economia social no domínio do emprego.
Sampaio da Nóvoa entende que o presidente da República deve ser “um árbitro, um moderador, uma pessoa equilibrada e prudente”, mas sem deixar de estar na linha da frente da luta contra as desigualdades, a pobreza, o desemprego e a precariedade do trabalho.