Tal como aconteceu entre nós também agora surgem notícias do Oriente que apontam no sentido do fortalecimento e da dinamização do mercado interno em resposta à crise gerada pela situação epidemiológica e pela guerra comercial declarada pelos EUA.
Tal como aconteceu entre nós – quando a partir de finais de 2015 se começou a substituir a estratégia para a superação da crise económica assente nas exportações, até então preconizada pela corrente neoliberal com os resultados que todos conhecemos, por outra mais orientada para a recuperação e dinamização do consumo interno –, também agora surgem notícias do Oriente que apontam no sentido do fortalecimento e da dinamização do mercado interno em resposta à crise gerada pela situação epidemiológica e pela guerra comercial declarada pelos EUA.
É por demais evidente que uma das óbvias e cada vez mais presentes consequências da epidemia da covid-19 são os efeitos sobre as economias e em especial sobre a dos países por ela mais afectados. Não espanta, por isso, que as projecções para as principais economias apontem já para quebras superiores às registadas durante a Crise Financeira Global, sendo de destacar as economias europeias entre as maiores (e não estão aqui contempladas os casos de França, Itália e Espanha onde as últimas previsões do FMI apontam para quedas entre os 12,5 e os 12,8%) e o resultado positivo (pequeno, mas positivo) para as economias asiáticas.
Entre estas o destaque vai para a China, não só porque esse pequeno crescimento a levará a afastar-se ainda mais dos EUA e a destacar-se como a principal economia mundial, mas também porque notícias recentes apontam para uma mudança na sua estratégia económica, que estará a levar o governo chinês a apostar no crescimento do seu mercado interno como via para o fortalecimento da sua economia.
Com a covid-19 a revelar a extrema fragilidade das estruturas do mercado global e a confirmação da tendência para o aumento do contributo da procura interna para o crescimento económico (ao contrário do que tem acontecido mas economias do G7), os chineses terão percebido as vantagens de medidas pensadas para fomentar um mercado interno mais eficiente e desbloquear o potencial do país, apostando em medidas que facilitem a transição de uma economia voltada para as exportações para uma orientada para o seu vasto mercado interno de mais de 1,3 mil milhões de consumidores.
Esta ideia – definida como uma estratégia de “dupla circulação”, talvez para contrariar a ideia de que ocorrerá uma redução das exportações – confirma a tendência de recuperação do peso do consumo interno no PIB chinês, que em 2019 poderá até já ter ultrapassado os 50%, e constitui ainda a primeira resposta à guerra comercial declarada pelos EUA, o que não significa que as exportações deixarão de ter importância numa economia que deverá continuar a investir na sua vantagem competitiva para ampliar ainda mais a oferta de produtos de baixo custo, como o comprova a continuação do investimento na sua Nova Rota da Seda, antes traduz uma postura mais realista e equilibrada que aumentando o rendimento das famílias ajude a converter o consumo interno num dinamizador da economia e, espera-se, sem resvalar para o isolacionismo económico.
De uma forma ou outra, esta nova política económica chinesa terá impacto global, pois nos tempos actuais é quase impossível que uma reforma desta natureza seja realizada pela principal economia do mundo sem que os seus efeitos colaterais não atinjam vários países. Isso será especialmente verdade num Ocidente onde o crescimento dos receios que também esta potência enverede pelo caminho de um isolacionismo que prejudica especialmente uma UE muito dependente das relações económicas com a China (particularmente uma Alemanha que é o principal fornecedor de veículos, aeronaves, máquinas e equipamentos industriais) e que poderá despoletar uma reacção em cadeia de igual tendência, enquanto outros parceiros comerciais, como o Japão e a Coreia do Sul, poderão ver na nova estratégia uma ameaça directa.
Exacerbados pela crise económica que se instala, avolumam-se assim os cenários de generalização das práticas isolacionistas, quando cresce o número dos que acham que esta poderá ser a única forma eficaz de competição quando americanos e chineses optam por essa via, inviabilizando ab initio uma solução para este novo ciclo contraccionista semelhante à registada para a Crise Sistémica Global, donde a China emergiu como grande potência económica e, graças ao forte poder de compra proporcionado pela liberdade de uso de múltiplos instrumentos de política monetária (nomeadamente a capacidade discricionária de criação de moeda), principal responsável pela recuperação global.
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