Enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, distribui agressões e joga conversa fora para tentar edulcorar a pauta econômica do governo Bolsonaro, o país desce a ladeira.
Até o ponto forte do Brasil no comércio exterior, o agronegócio, emite sinais de que foi atingido pela crise. Em janeiro, as exportações do setor ficaram 9,4% abaixo do valor de um ano antes.
Com essa queda, o seu superávit comercial não foi suficiente para cobrir o déficit de outros setores. Contribuíram para esse dado a diminuição do valor e de volumes exportados. Entram nessa conta fatores externos, como a guerra comercial dos Estados Unidos contra a China e a crise econômica global, mas o determinante é o descaso com a situação interna.
O Brasil tem um déficit histórico em infraestrutura. Além de itens convencionais — como estradas, ferrovias e portos —, a ciência e a tecnologia poucas vezes foram tradadas como prioridade. Os esforços do passado agora estão sendo trocados por uma política econômica que passa ao largo do conceito de desenvolvimento nacional.
Esse modelo de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro tem sérias implicações para o futuro, mas já mostra resultados no presente. O crescimento pífio do ano passado, abaixo de 1% – segundo o Banco Central -, vai se repetindo nesse início de 2020, projetando mais um ano de resultado medíocre.
Esses números esquálidos têm a ver também com o abandono da arquitetura que deu vida à inserção do país no comércio internacional. A Unasul (União de Nações Sul-Americanas) foi um importante instrumento para que o Brasil tivesse peso no BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que por sua vez falava com a autoridade de representar uma generosa fatia do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
A perda do status de país em desenvolvimento, conquistado em batalhas homéricas na Organização Mundial do Comércio (OMC), para ganhar o passaporte para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), agrava a situação.
Da mesma forma, a integração sul-americana impulsionou a infraestrutura na região, especialmente no setor de energia. O Brasil, com a descoberta do pré-sal, projetava um intercâmbio mais dinâmico com seus vizinhos, ao passo que planejava distribuir petróleo e gás pelo país afora, impulsionando a economia.
Hoje, o cenário é desolador. Bolsonaro já avisou que a meta é vender as estatais do setor — inclusive a Petrobras — aos pedaços e que o Estado não investirá um centavo em gasoduto e oleoduto. Segundo ele, esse investimento virá da iniciativa privada, uma promessa que se liga ao “ajuste fiscal” de Paulo Guedes.
Com a estabilização da rolagem da dívida pública, a confiança na economia seria restabelecida e os investidores entrariam em cena para o salvar o país da catástrofe. É uma tese falsa, centrada na conhecida fórmula de que os defeitos dos governos não existem no setor privado.
A torra das estatais teria, ainda de acordo com Bolsonaro, o papel de evitar que a esquerda, se ela voltar a governar, se perpetue no poder. Isso quer dizer que, além de comprometer a economia brasileira, seu plano é inviabilizar qualquer projeto nacional de desenvolvimento.
A dedução é óbvia: trata-se de um projeto de poder que atenta contra os interesses do país. Por trás dele está o jogo da geopolítica. A cobiça internacional sobre as riquezas do país conta com esse tipo de poder, inimigo da soberania nacional e da democracia.
Texto original em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado