De vez em quando parece haver alguma, talvez verdadeira, preocupação, nos meios do Poder, pelo afastamento e indiferença dos cidadãos face à política, traduzidos no abstencionismo e encolher de ombros.
De vez em quando parece haver alguma, talvez verdadeira, preocupação, nos meios do Poder, pelo afastamento e indiferença dos cidadãos face à política, traduzidos no abstencionismo e encolher de ombros, perante seja qual a catástrofe que aconteça. Atenção voltada para o futebol, isso sim! Para o futebol ou para a hepatite
De forma aparentemente aberrante, o cidadão, indiferente e apático, só de vez em quando e abruptamente buzina, chora, grita e canta o fado.
Porquê?
Como é que o poder político obtém informação sobre o “estado de espírito” das gentes lusitanas? Será por exemplo, através da ressonância provocada por artigos publicados nos meios de comunicação social? Essa ressonância parece confusa, desconexa e paradoxal? Desinteressante?
Ou essa informação filtrada consegue servir para sentir o pulso e auscultar a respiração da população?
Mas afinal os portugueses “deste país” são abúlicos ou não?
Como analisar e interpretar a realidade social?
Porque o risco, para o poder, de não ser capaz de interpretar a realidade social é a de se colocar fora dela. Ou seja, é o risco de se tornar esquizóide.
Um poder esquizóide retém informação, esconde-a, é tentado por práticas mágicas e ocultas a secretizar as suas decisões. Estes métodos geram instintiva desconfiança e afastam ainda mais a população. Um ciclo vicioso e perigoso.
Como saber o que pensam os Portugueses, eis a questão.
Através de inquéritos e sondagens? Na rua, pelo telefone, porta-a-porta? Ou exclusivamente nas calendarizadas eleições?
A forma como as perguntas são colocadas aos possíveis entrevistados enviesa as respostas? As crenças, atitudes, comportamentos de quem realiza inquéritos e sondagens influi na forma como são avaliados e interpretados?
Os relutados destas pesquisas de opinião são variáveis em função de quem as encomenda e porquê?
Há respostas para estas perguntas. Mas as respostas só se obtêm depois de pensar: que objectivo pretendo obter quando faço uma investigação?
Porque, se o objectivo último de conhecer a realidade social for manipulá-la mais e melhor, então não vale a pena tentar o trabalho de a conhecer. Mais vale ao poder inventá-la. Fica mais barato. E é definitivamente delirante.
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