Eleições europeias
De acordo com a imprensa, a Chanceler Angela Merkel já escolheu o ‘Spitzenkandidat’ do Partido Popular Europeu para as eleições europeias de 2019: Manfred Weber, membro da CSU, a fracção bávara do seu partido.
O palavrão alemão de ‘spitzenkandidat’ traduz a mesma ideia comum aos regimes democráticos parlamentares em que os partidos apresentam um candidato a ‘Primeiro-Ministro’, de resto tal como acontece em Portugal. O problema fundamental do sistema é o de ele não contemplar necessariamente primárias e colocar nas cúpulas partidárias, por vezes na única pessoa do líder, todo o poder. A questão torna-se mais grave quando, como acontece neste caso, é o líder político de um dos Estados Membros a tomar este tipo de decisões.
Acresce a este problema o facto da construção europeia ter evoluído sempre em volta de um centrãofeito de partidos de centro direita e de centro esquerda, que repartem cargos e funções num rito em que a vontade do eleitor parece ser secundária, levando a um cansaço eleitoral que se torna cada vez mais visível.
Sendo a CSU a mais conservadora ala da coligação alemã no poder, e sendo Manfred Weber especialmente próximo do líder populista húngaro Viktor Órban, o mais articulado e influente líder do populismo eurocéptico, pró Putin e antiliberal; a leitura da designação de Weber parece ser clara: uma aposta no esvaziamento do populismo europeu cada vez mais ameaçador, nomeadamente a partir da adesão ao seu projecto europeu do estratega norte-americano Steve Bannon.
O segundo ramo do centrão, o dos socialistas europeus, parece submetido a um papel subalterno e em retrocesso acelerado. Neste quadro, a principal preocupação do centrãoserá a da derrocada socialista.
A cristalização das instituições em volta do centrãolevou a que a oposição se confunda com os chamados populistas, hoje em dia espartilhados em vários partidos à direita e à esquerda. Um dado novo neste cenário surgiu com as eleições italianas. Aí, um partido com vagas referências à esquerda através da democracia directa juntou-se a outro claramente conservador, num projecto de fusãoeurocéptica para governar o país. A mesma ideia foi superficialmente equacionada no quadro alemão por uma dirigente do ‘Partido da Esquerda’ alemã que falou da necessidade de conter a imigração com discurso em ponte à extrema-direita.
Não é provável que o projecto de fusãochegue às últimas consequências; apenas para nos situarmos no plano nacional, dificilmente veríamos o PCP ou o BE a juntar-se no mesmo partido europeu com a Frente Nacional francesa. Mas mesmo sem que esse passo seja dado aparece cada vez mais clara a possibilidade de convergência estratégica dos vários ‘populismos’, ‘extremismos’ ou ‘eurocepticismos’.
Daí a importância da decisão de Angela Merkel. Viktor Órban era o mais provável e consequente líder desse movimento populista; o seu ‘aprisionamento’ no centrãoparece ter como objectivo sabotar a fusão. A questão é também a de que esta estratégia corre o risco de ver os seus objectivos invertidos, com a fusãoa desfazer o centrãopor dentro.
Nas eleições francesas, Emmanuel Macron conseguiu furar o anquilosamento do sistema partidário francês surgindo como uma força jovem, liberal e europeísta, arrasando simultaneamente o sistema político-partidário instituído e o desafio populista, engolindo no percurso o incipiente centro político-partidário.
Desde essa altura que pareceu claro que Macron iria procurar reproduzir à escala europeia o sucesso da sua estratégia francesa, e dia após dia esse percurso parece afirmar-se, multiplicando-se na imprensa internacional os anúncios da nova plataforma ‘progressista’ europeia.
A dita plataforma progressista pretende ser alternativa ao centrãoe à fusãomas é uma espécie de combinação da plataforma social do BE com a veneração à finança do ‘arco governativo’ português, revelando-se também como uma plataforma de acesso directo ao poder de poderosos grupos de interesse. Cada vez mais o eleitorado francês olha essa plataforma como uma perfeita ilusãoque não responde a nenhuma das suas aspirações.
Pela minha parte, continuo a pensar o que pensava em 2014, há a necessidade de erguer uma alternativa internacionalista, social, ecologista, democrática e liberal ao centrãoe ao sistema político-financeiro em que nos situamos sem qualquer cedência a regimes e ideologias totalitários, sejam eles protocomunistas, jihadistas, nacionalistas ou imperialistas.
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