Uma jovem cineasta paulista, Fernanda Pessoa, fez uma espécie de antologia da pornochanchada em Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava – e com ela pretendeu rever ou reavivar o gênero. O filme é de 2018, mas ao que se sabe ela não conseguiu o seu intento. A sua produção está sendo exibida na Netflix, pelo menos para alguns espectadores.
Fernanda criou uma pornochanchada a partir de sequências de umas 15 produzidas nos anos 70, e realizou uma espécie de vinhetas para conseguir dar continuidade ao produto. E nessas partes introdutórias buscou mostrar momentos de crítica política à ditadura brasileira. O certo, porém, é que não atingiu um melhor nível com o seu trabalho. Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava continua não só contando muito pouco, além de criar um cinema de ínfimo nível artístico.
Se olharmos a história da chanchada e especificamente da pornochanchada em nosso cinema, não iremos encontrar nenhum exemplo de filme de excelente nível artístico, a não ser, certamente, destacando algumas sequências dentro de uma ou outra produção.
A chanchada se aproximou do nosso grande público porque, sabemos, sempre foi um produto sem melhores dimensões artísticas, ao mesmo tempo em que utilizava uma temática cômica ou erótica, em grande parte já conhecida do grande público através da atuação do elenco no rádio ou na televisão. Poderíamos dizer que a própria estrutura cultural da população brasileira estimulou esse tipo de arte.
Hoje, um filme cômico como uma chanchada, e principalmente pornô, não teria aceitação do grande público, que de certa forma tem uma outra visão de moral coletiva. Esse público hoje rejeita com verdade ou não o humor, a comicidade, o erotismo daqueles anos. Talvez com a continuidade desse atual governo federal, chegaremos a um perfeito período de retrocesso. Os filhos do presidente, quando não ele próprio, estão aí para estimular a volta do velho machismo.
Um cineasta brasileiro que buscou chegar ao erótico artístico foi Walter Hugo Khouri, num filme como Noite Vazia, que se aproximou de um cineasta como Michelangelo Antonioni ao utilizar o caminho dos longos planos e a presença de atrizes e atores marcantes, como era o caso de Norma Bengell, Gabriele Tinti, Odete Lara e David Cardoso. Mas no gênero não teríamos cineastas nem mesmo para manter um nível com essa proximidade.
Olhando o geral no cinema mundial, temos filmes excelentes, até mesmo chamados pornográficos, mas que não seriam padrão de cada cineasta e sim momentos “especiais” de suas cinematografias. E eu citaria O Último Tango em Paris, feito em 1972 por Bernardo Bertolucci, com Marlon Brando e Maria Schneider. Outro também famoso foi O Império dos Sentidos, realizado pelo japonês Nagisa Oshima em 1976. Ambos conseguiram mexer com todos os espectadores, tanto com os que queriam apenas diversão quanto com aqueles que buscavam uma aura estética, sem prejuízo da diversão.
O cinema industrial o que mais procura é criar correntes, e através delas fazer filmes em série, como acontece em geral com a produção de Hollywood. Mas não me parece que isso possa acontecer num sistema como o existente no Brasil, onde o cinema indústria é ínfimo e o que ainda continua a predominar é a produção autônoma, mesmo que ajudada por produtores muito mais do que no passado Cinema Novo, onde um produtor era uma simples exceção, como Jarbas Barbosa.
Mas uma pessoa que queira ver um caminho e se distinguir, como é o caso da jovem Fernanda Pessoa, ainda terá de ir mais à frente. Claro que não é o tema que faz o cinema, mas sim a forma narrativa à sua criação.
por Celso Marconi, Crítico de cinema, referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8 | Texto original em português do Brasil
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