Uma reflexão sobre sobre os movimentos cinematográficos na atualidade e o filme argentino “Terminal Norte”, disponível no Mubi.
O cinema sempre esteve como uma arte fundamental para pensar o mundo, desde a sua criação nos anos do fim do século XIX. E na história do cinema, temos as definições tanto do lado do capitalismo, com a criação de Hollywood, quanto do socialismo, com o movimento cinematográfico liderado por Sergei Eisenstein e outros russos, no tempo do governo liderado por Lenin. Hoje o cinema não tem mais tanta força, mas a presença da internet não o afastou como arte principal, e me parece que, pelo contrário, a internet o coloca acima.
O que o pensador italiano Umberto Eco disse uma vez sobre a internet foi um jogo fácil de palavras, pois o que vemos é que a internet vem influenciando o mundo de maneira positiva. E no caso do cinema, a internet não só divulga como exibe filmes, e certamente o número de pessoas no mundo de hoje que tem o cinema como ‘a grande arte’ é ainda muito maior. Mesmo assim, a força dos filmes em si mesmos não aumentou. Cada filme feito hoje no mundo é mais tímido em sua dimensão dramática, se fizermos uma comparação com o cinema que foi realizado nos anos 50 ou 60. Não se pode encontrar um movimento que venha de um determinado país. O cinema é feito por cineastas individualmente, e cada um deles procura seus caminhos sem pensar em algo coletivo, como acontecia naqueles anos quando inclusive tivemos aqui no Brasil o movimento chamado Cinema Novo.
Aqui mesmo em Pernambuco se viu um forte desenvolvimento do cinema, mas me parece sem força de conjunto. Cada um cineasta pensa no seu próprio filme, e raramente vemos algo trabalhado pelo conjunto. E certamente não se poderiam encontrar aspectos que marcassem tais e tais filmes como pernambucano. Isso é uma questão da cultura atual no mundo, talvez. Ou não.
Olinda, 24. 07. 22
A música popular argentina
Há um registro cinematográfico da música popular da Argentina feito pela cineasta Lucrecia Martel que se chama “Terminal Norte”, e está em exibição na Mubi. É só um lembrete que estou fazendo, pois considero que será fundamental esse documentário de 37 minutos feito com toda a simplicidade necessária pela cineasta Lucrecia Martel. Consta que ela estava voltando para casa, que fica na região argentina de Salta, e para sua surpresa, pois a região é de extrema burguesia, encontrou essa extraordinária cantoria liderada por uma conhecida cantora, Julieta Laso. E a cineasta teve a delicadeza de não interferir com a sua câmera, mas simplesmente registrou num quase único plano direto enquanto podia. Quem gosta de arte popular, especialmente música, não pode deixar de assistir. E repetir a visão. Um documentário que felizmente não tem uma certa sofisticação comum aos trabalhos artísticos argentinos.
Olinda, 27. 07. 22
por Celso Marconi, Crítico de cinema mais longevo em atividade no Brasil. Referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8 | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado