O pensamento de Dinara Machado Guimarães tem uma motivação especial para os dedicados à Psicanálise, mas é uma forma que demonstra a maturidade da arte.
O Café Lacaniano do sábado 19 de junho foi com a psicanalista pernambucana Dinara Machado Guimarães, que falou sobre o seu trabalho que tem no cinema um esteio. A sua ligação com o cinema é longa e começou diretamente nos anos 70, quando ela foi escolhida no Recife, onde estagiava no Hospital Pedro II, para um estágio no Centre Alfred Binet em Paris. Lá participou de vários Seminários do psicanalista Jacques Lacan. E ao mesmo tempo ampliou o seu interesse pelo cinema, pela possibilidade que então havia em Paris de assistir aos melhores filmes produzidos nesses anos.
Quando voltou de Paris, Dinara Machado não permaneceu no Recife e se mudou então para o Rio de Janeiro, onde reside até hoje. Fez Mestrado e Doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas se ligou também à Escola de Cinema criada em Niterói pelo cineasta Nelson Pereira dos Santos. No seu currículo tem três livros lançados: Vazio Iluminado, Voz na Luz e Escuta do Desejo. Na palestra, que teve duração de 2 horas, Dinara explicitou então a sua interpretação do cinema e o quanto um filme pode se ligar a excrementos. Ela considera que o curta de Luiz Buñuel e Salvador Dali, “O cão andaluz”, é o ponto inicial. Ou central.
Sem dúvida, o pensamento de Dinara Machado Guimarães tem uma motivação especial para os dedicados à Psicanálise, mas é uma forma que demonstra a maturidade da arte. Não apenas um instrumento de divertimento, mas sim um elemento fundamental para o conhecimento humano.
Durante sua palestra, Dinara exibiu um curta que realizou para o lançamento do livro “Escuta do Desejo”, e nele colocou em frases o esquema do seu ver a imagem e a voz. No Brasil, existem outros psicanalistas que também se ligam ao cinema como Geraldino Alves Ferreira Neto e Sérgio Telles. E no mundo, Dinara lembrou do filósofo Slavoj Zizek.
Olinda, 21. 06. 2021
Acqua Movie de Lírio Ferreira
Certamente, o filme de nível mais internacional não só de Lírio Ferreira, mas do cinema pernambucano, é esse “Acqua Movie”, que foi terminado em 2019 e somente este ano está sendo exibido. Mais uma questão da pandemia. É um filme que tem uma ligação no argumento com outro filme de Lírio, “Árido Movie”. No meu ponto de vista, o cineasta ficará marcado por esses dois filmes, apesar da expressividade de “Baile perfumado”.
Em primeiro lugar, destaco o roteiro que foi escrito pelos três cineastas, Lírio, Paulo Caldas e Marcelo Gomes. Esse roteiro conseguiu colocar a estória com todas as suas nuances e assim expressar um autêntico pensamento sobre a questão indígena, e também a questão da terra no Brasil, utilizando a forma técnica de um produto industrial. O filme diz o que provavelmente o cineasta pensa, mas sem precisar de quebrar as normas de um produto comercial cinematográfico. “Acqua Movie” poderia ter sido produzido por uma empresa hollywoodiana, e nem por isso precisaria de modificar a sua narrativa. Me parece que Lírio Ferreira como diretor conseguiu se aproximar do ápice de uma direção cinematográfica.
Dos atores, quem realmente se destaca são a atriz Alessandra Negrini e o garoto Antônio Haddad Aguerre, que fazem os dois personagens principais, Duda e Cícero. Mas não há nenhuma excepcionalidade no trabalho deles. O que me parece é que a direção de Lírio envolve o conjunto dos atores e todos conseguem viver seus personagens com a realidade do próprio filme.
Também aconteceu que a montagem de Vânia Debs fez o que o conjunto fílmico precisava, e esse ficará como uma demonstração do seu grande trabalho para a composição do cinema pernambucano. Tanto o trabalho de montagem como o de fotografia, de Gustavo Hadba, foram setores fundamentais para que a direção de Lírio chegasse a esse excelente nível de concretização.
Não preciso dizer que “Acqua Movie” começa bonito com uma narrativa em tupi-guarani, e termina bonito com cantos indígenas. E tem um conjunto cênico bonito, também sem deixar que a densidade dramática se perca em toda sua continuidade cênica.
Olinda, 22. 06. 2021
Simon, o mágico
Esse é o terceiro filme húngaro que vejo recentemente e comento. Isso porque apesar da Hungria ser um país periférico do ponto de vista internacional, abriga um povo que se apresenta como marcante. E o cinema sem dúvida é a arte que mais abertamente mostra seu povo. E esse filme que estou comentando, “Simon Mágus” (Simon, o mágico), se apresenta de início como uma espécie do gênero policial, mas vai bem além. Ele me parece muito próximo do que é a cultura do povo sofisticado que é o húngaro.
“Simon Mágus” foi lançado em 1999 e o seu diretor Ildikó Enyedi passou dezoito anos para realizar outro filme, “Corpo e alma”, mas recentemente já lançou outra produção, “The story of my wife”, que foi incluído pelo Festival de Cannes em sua programação.
“Simon, o mágico” começa com uma pequena estória. Simon é contratado pela polícia francesa para ajudar a descobrir um assassino. Mas isso, que poderia ser um ponto inicial para um simples filme policial, fica como motivação para que Simon viaje. Assim, no hotel luxuoso onde é hospedado, começa a viver pontos essenciais da sua vida. Inclusive o que parece ser o ponto mais destacado do roteiro do filme. Um amor que surge entre Simon e uma parisiense bela. Simon é vivido por um ator nem um pouco belo. Também há um relacionamento dele com um mágico parisiense, que ele considera um rival mais jovem.
Assim é através de episódios que “Simon, o mágico” se desenvolve como um interessante filme psicológico. E muito belo enquanto linguagem através de uma fotografia em preto e branco muitíssimo plástica. Está à disposição do público através do site Making Off.
Olinda, 23. 06. 2021
Kleber em Cannes
A grande notícia ligada ao cinema é sem dúvida a presença de Kleber Mendonça Filho como jurado de longa-metragem no próximo Festival de Cinema de Cannes. Em julho.
Olinda, 27. 06. 2021
por Celso Marconi, Crítico de cinema mais longevo em atividade no Brasil. Referência para os estudantes do Recife na ditadura e para o cinema Super-8 | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado