Não há comentador, jornalista ou analista que a propósito da economia portuguesa não refira, invariavelmente, a necessidade de aumentar a produtividade e a competitividade, como via para inverter a situação de fracos crescimentos e alcançar o seu relançamento.
Comemorando-se amanhã o dia do trabalhador, que melhor tema para reflectir que a situação que vive este grupo social, quando confrontado com aqueles “chavões”. Se recordarmos que a origem desta comemoração remonta a um levantamento que teve lugar em Chicago, no distante ano de 1886, reivindicando a jornada de 8 horas diárias e que esta apenas viria a conhecer o reconhecimento oficial em 1919, quando pela primeira vez o senado francês ratificou tal pretensão, talvez muitos reconheçam que não estamos assim tão longe daqueles tempos como isso.
Para quem esteja a pensar que actualmente a maior parte das empresas praticam até horários inferiores, sempre recordo a necessidade de observar a diferença entre a teoria e a prática, conselho que deve igualmente ser estendido a questões como as da produtividade e da competitividade.
É hoje comummente aceite a necessidade de as empresas verem melhorada a sua produtividade (como forma de aumentar os seus resultados e garantir a sua própria continuidade) e a competitividade dos seus produtos (como forma de garantirem lugar em mercados cada vez mais concorrenciais e a prática de melhores preços), para que estas também se reflictam nos resultados de cada país, ou seja naquele indicador económico a que todos hoje se referem: o PIB.
Todos estaremos “a priori” de acordo com a necessidade de melhorarmos práticas e aumentarmos os resultados que cada um obtém; se o lograrmos, estaremos a aumentar os resultados que todos poderemos alcançar e a maximizar as possibilidades de usufruirmos de melhores condições de vida. Isto admitindo-se que o que cada um produz contribui para a satisfação de todos.
Quem ouça falar a maioria dos nossos políticos e muitos dos especialistas nestas coisas da economia, de pronto fica com a ideia que a baixa produtividade e o seu fraco crescimento se devem ao facto de se trabalhar pouco e mal; porém, noutras ocasiões citam-se casos de sucesso de investimento estrangeiro que até glorificam o trabalho nacional e a elevada produtividade alcançada comparativamente com unidades sedeadas noutros países.
Esta aparente dualidade de critérios e de avaliações parece de muito fácil explicação. Desde Adam Smith e David Ricardo (finais do século XVIII e princípios do século XIX) que se começou a entender a produção de uma qualquer unidade económica como o fruto da conjugação de dois factores: o capital (expresso no investimento necessário à aquisição de instalações, maquinaria, matérias-primas, energia, etc., etc.) e o trabalho (engenho e arte capaz de idealizar novos instrumentos, novas técnicas, ou mais simplesmente, de transformar as matérias-primas em novo produtos), os quais são “combináveis” em proporções diversas. Teoricamente um mesmo produto poderá ser obtido por distintas combinações daqueles factores, sendo que o que varia serão as quantidades e a qualidade do artigo produzido. Fácil se torna então explicar e entender aquela questão.
O que realmente faz aumentar a produtividade e/ou a qualidade do produto não é o “trabalho” nele incorporado, mas sim o “capital” nele investido.
Por outras palavras, a proverbialmente baixa produtividade portuguesa não resulta da falta de vontade de trabalhar da sua população, mas sim da fraca capacidade de investir do seu tecido económico, seja esta resultado de escassez de capital seja de uma particular tendência para o lucro rápido e fácil dos nossos “capitalistas”.
Numa época em que tão importante quanto uma boa ideia é uma ideia bem aplicada, continuamos entre nós a “sonhar” com as glórias do passado ou a desejar que tudo continue como dantes. Os empresários nacionais clamam contra a intervenção do Estado na economia, mas não perdem a mínima oportunidade para “embolsar” uns subsídios e adiam investimentos na expectativa de que um próximo governo lhes proporcione melhores condições, por outro lado os governos têm-se desdobrado em “projectos maravilha” que se iniciam nuns milhões de euros de subsídios e isenções fiscais e anos mais tarde se saldam, invariavelmente, numas centenas ou mesmo milhares de despedimentos.
Isto é algo em que me parece que TODOS devemos reflectir quando se comemora mais um DIA DO TRABALHADOR!