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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

O dia que selou o destino de Bolsonaro e jogou os militares no fogo

Tereza Cruvinel, em Brasília
Tereza Cruvinel, em Brasília
Jornalista, actualmente colunista do Jornal do Brasil. Foi colunista política do Brasil 247 e comentarista política da RedeTV. Ex-presidente da TV Brasil, ex-colunista de O Globo e Correio Braziliense.

Três detonações abriram ontem uma cratera sob os pés de Bolsonaro e selaram seu destino como futuro presidiário: as acusações do hacker Walter Delgatti na CPMI do 8 de janeiro, a anunciada confissão Mauro Cid, que cumpriu ordens do ex-chefe para vender joias e lhe entregar o dinheiro, e a autorização do ministro Alexandre de Morais para a quebra dos sigilos bancário e fiscal dele e de Michelle.

Na derrocada, Bolsonaro arrasta para o fosso os militares que embarcaram com ele na aventura golpista contra a democracia, buscando desmoralizar o sistema eleitoral e solapar a vontade popular para mantê-lo poder. Tiveram motivações ideológicas, certamente mas quiseram também conservar as boquinhas e privilégios obtidas no governo dele.

Com a confissão de Cid, Bolsonaro pode tornar-se réu, e ser preso, primeiro no caso das joias. Que mais faltará? Com a quebra dos sigilos e a devassa dos celulares do advogado Wassef, uma profusão de provas surgirá.

Mas, para o futuro da democracia no Brasil, será imprescindível e imperativa a condenação de Bolsonaro por ter planejado um golpe de Estado valendo-se da mentira, da manipulação de consciências e finalmente da abolição violenta do Estado de Direito, pois isso é que foi tentado em 8 de janeiro e nos eventos de dezembro.

Este desfecho já não é tão iminente como o do caso das joias, apesar da gravidade das acusações que lhe foram feitas ontem por Delgatti. Algumas das coisas que ele disse na CPMI são verdades já demonstradas. Outras terão que ser provadas no âmbito do inquérito comandado por Alexandre de Morais.

É certo que Delgatti foi atraído para a colaboração com o bolsonarismo pela deputada Carla Zambelli, é certo que dela recebeu dinheiro e que esteve no Palácio da Alvorada com Bolsonaro, existindo registro fotográfico de sua saída. O próprio Bolsonaro, bem como seu filho Flávio, admitiram ontem que o hacker foi encaminhado ao Ministério da Defesa, segundo eles para assessorar a equipe militar que acompanhava o processo eleitoral, diga-se de passagem, procurando o tempo todo colocar em dúvida a segurança das urnas eletrônicas.

Outras acusações de Delgatti escoram-se apenas em sua palavra, embora tenham uma coerência gritante com os métodos e o processo mental de Bolsonaro e dos seus. São elas a de que Bolsonaro pediu-lhe para assumir a autoria de um grampo contra Alexandre de Morais, já realizado por colaborador estrangeiro. Talvez Bolsonaro tenha dito isso pensando na gravação que seria tentada pelo senador Marco do Val, talvez por fanfarronice, e talvez não tenha havido isso. Trabalho para a Polícia Federal, que ao ouvir o hacker novamente hoje, começará perguntando porque ele disse na CPI coisas que omitiu no depoimento da véspera.

Da mesma forma, falta ainda a prova de que Bolsonaro tenha lhe proposto a criação de um código fonte falso para uma urna de origem não esclarecida, nele inserindo um comando malicioso que faria um voto em um candidato ser computado para outro. Um de Bolsonaro sendo contado para Lula. Que urna seria essa? Delgatti falou na OAB, que ontem mesmo disse não possuir urna eletrônica alguma. Ele sugeriu que haveria um teatro no 7 de setembro, com uma demonstração pública da vulnerabilidade da urna. Mas como terminou isso? Desistiram do plano ou Delgatti não foi capaz de entregar a encomenda? São perguntas que os membros da CPI não fizeram.

A CPI não decidirá a condenação ou a prisão de Bolsonaro, ainda que possa recomendar isso. Mas, agora, ela entrou numa nova dinâmica, devendo atuar como força propulsora do inquérito judicial.

Agora ela fará novas convocações, começando por militares como o ex-ministro da Defesa, general Paulo Sérgio, como o general Heber Portela, que representava as Forças Armadas na comissão fiscalizadora externa do TSE. A ele cabia levar ao TSE os questionamentos dos militaraes, que segundo o próprio Bolsonaro, receberam “assessoria” de Delgatti, ontem chamado o tempo todo de criminoso pelos bolsonaristas (e por Moro, é claro). Mas não sabiam quem ele era quando buscaram a ajuda dele?

Aliás, o que anda pensando disso tudo o ministro da Defesa, José Múcio, que ontem se fechou em copas? Haverá agora um desfile de patentes na CPI. Não passaremos o golpe a limpo sem a exposição deles.


Texto original em português do Brasil

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