Só uma profunda miopia, movida a concupiscência e venalidade, explicam que, há décadas, dirigentes do hemisfério Norte Ocidental nos tenham conduzido paulatinamente à presente situação.
Claro que poderemos sempre dizer que, atentados como os ocorridos em Paris, são actos terroristas. Esta afirmação é consensual. Poderemos rechear de adjectivos e preencher de análises, explicações e imagens, o tempo e espaço mediáticos dedicados ao tema, repetindo-os até à náusea ou, muito pior, até à indiferença.
O que já não será tão fácil de explicar é a olímpica ignorância, ou desprezo, pela circunstância de que não se deve deixar um grupo, qualquer grupo, ligado por interesses ou convicções diversos, sem porta de saída. A volúpia do poder, do dinheiro, da posse – expressões “civilizacionais” do controlo de um “território” na natureza – nunca deveriam ter “esticado a corda” ao ponto de deixar sem perspectivas, uma Nação, um Povo e os sonhos de todos os que o integram.
Não é necessário ter lido o “Príncipe”, de Maquiavel, ou a “Arte da Guerra”, de Sun Tzu, para saber que deixar os outros sem opção não é uma opção. O Ocidente está a pagar com juros o preço de séculos de escravatura, de abusos, de xenofobia, de privação da dignidade e condição humanas, aos povos que explorou, oprimiu e humilhou, durante séculos.
No seu rancho, num qualquer Texas, um magnata do petróleo acende um charuto com uma nota de mil dólares enquanto troca impressões com o presidente da Associação de Armas Nacional (NRA) acerca da evolução dos negócios.
Não se pretende com isto justificar qualquer espécie de terrorismo ou de actos bárbaros como os ocorridos em Paris. Pretende-se apenas questionar a verdadeira identidade dos seus autores.
Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem
Bertolt Brecht
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