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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

O emprego, os salários, o desemprego

Eugénio Rosa
Eugénio Rosa
Licenciado em economia e doutorado pelo ISEG

O emprego, os salários, o desemprego e apoio aos desempregados em Portugal e o agravamento da situação em 2023 devido à recessão económica causada pela guerra e mais sanções

Neste estudo, analiso a evolução do emprego e da remuneração base média ilíquida real (após a dedução da inflação) em Portugal que, apesar de ser muito baixa, está a perder poder de compra, a evolução do numero dos desempregados que se inscrevem nos Centros de Emprego que aumentou nos dois últimos meses, e os Centros Emprego só conseguem arranjar trabalho para 18,5% dos desempregados que se inscrevem todos os meses. Apesar disso o IEFP/MTSSS consegue divulgar reduções do desemprego. O numero de desempregados a receber subsidio de desemprego tem diminuído, sendo uma das principais causas da pobreza (46,5% dos desempregados estão na pobreza). E esta situação vai-se agravar em 2023 devido à recessão económica causada pela guerra e pela multiplicação de sanções.

 

Estudo

O emprego, os salários, o desemprego e apoio aos desempregados em Portugal e o agravamento da situação em 2023 devido à recessão económica causada pela guerra e mais sanções

Muitos órgãos de comunicação social e o governo têm procurado “vender” à opinião pública a ideia que, no nosso país, o emprego tem aumentado e o desemprego tem diminuído criando a ilusão que Portugal teria o melhor dos mundos possíveis. Interessa por isso analisar com objetividade a realidade que estas palavras ocultam.

A RECENTE QUEDA DO EMPREGO E A REDUÇAO CONTINUADA DA REMUNERAÇÃO BASE MÉDIA ILIQUIDA REAL

O quadro 1, construído com dados divulgados pelo INE no seu “site”, portanto acessíveis a todos os interessados revela a evolução do emprego e da remuneração média base ilíquida real desses trabalhadores entre 2021 e 2022.

Quadro 1 – Variação do nº de trabalhadores e da remuneração média base ilíquida real entre out.2021/out.2022


Entre out.2021 e ag.2022, o emprego em Portugal aumentou de 4,27 milhões para 4,485 milhões (+214,3 mil), mas em set.2022 já se verificou uma redução do emprego. No entanto, este aumento do emprego está associado a baixos salários que, ainda por cima, estão a perder continuamente poder de comprar.

Em dez.2021, o poder de compra da remuneração media base ilíquida era inferior à de dez.2020 em -0,2% mas, em set.2022 o poder de compra já era inferior ao de set.2021 em -4,6%. O aumento emprego é sobretudo emprego de baixa qualidade e de baixos salários. Assim é impossível tirar o país do atraso.

O NÚMERO DE DESEMPREGADOS QUE SE INSCREVEM MENSALMENTE NOS CENTROS DE EMPREGO É MUITO SUPERIOR ÀQUELES QUE OS CENTROS DE EMPREGO ARRANJAM TRABALHO

Em Portugal, existem duas entidades oficiais – INE e IEFP- que publicam estatísticas sobre o desemprego. O INE calcula o desemprego em relação a toda a população. O IEFP, a que pertencem os Centros de Emprego, divulga todos os meses dados sobre o emprego registado, que inclui apenas os desempregados que se inscreveram nos Centros de Emprego. Os desempregados que não se inscrevem, e são muitos, não são considerados. O gráfico 1, revela o número de desempregados que se inscreveram em cada mês no período out.2021 a set.2022 e o número de desempregados que os Centros de Emprego conseguiram arranjar trabalho em cada mês.

Como mostra o gráfico, o número de desempregados que se inscreveram em cada mês, embora elevado, revelou até ag.2022 uma tendência de redução (44168 em out.2021 e 37121 em ag.2022). E em set.2022 disparou para 57668 e, em out.2022, inscreveram-se 50580. A dimensão da gravidade deste elevado número de desempregados que se inscrevem todos os meses nos Centros do Emprego ainda se torna mais claro quando se compara com reduzido número de desempregados que os Centros de Emprego conseguem arranjar trabalho. No período compreendido entre set.2021 e out.2022 inscreveram nos Centros de Emprego 541.521 desempregados, e estes arranjar trabalho a 99941, ou seja, apenas a 18,5%.

A”LIMPEZA” DOS FICHEIROS DOS INSCRITOS NOS CENTROS DE EMPREGO PARA REDUZIR O DESEMPREGO?

Uma situação estranha verifica-se no desemprego registado nos Centros de Emprego que nem o governo nem a direção do IEFP dão qualquer explicação. Para ficar claro para o leitor comece por observar os dados do gráfico 2.

O número de desempregados inscritos mensalmente nos Centros de Emprego é sempre muito superior ao número daqueles que os Centros de Emprego conseguem arranjar trabalho (gráfico 1, correspondem apenas a 18% dos que se inscreveram). No entanto, o número total de desempregados inscritos nos Centros de Empregos no fim de cada mês divulgado todos os meses pelo governo tem descido (ver gráfico 2). Entre nov.2021 e out.2022 inscreveram-se nos Centros de Emprego 497353 desempregados e os Centros de Emprego só arranjaram trabalho para 91229, portanto não arranjarem emprego, do total de inscritos neste período, para 405424 desempregados. Se somarmos este número aos que existiam no fim de out.2021 -351667-obtem-se 757091. Era este o número de desempregados que deviam existir em out.2022. No entanto o IEFP e o governo (MTSSS) divulgaram que nos ficheiros dos Centros de Empregos só estavam inscritos, em out.2022, 289125, ou seja, menos 467966 que desapareceram dos ficheiros, como por milagre, dos Centros de Emprego.

A QUEDA NO REDUZIDO APOIO AOS DESEMPREGADOS, QUE É A PRINCIPAL CAUSA DA POBREZA NO NOSSO PAÍS

O gráfico 3 mostra o reduzido número de desempregados que recebem subsídio de desemprego: 36 em cada 100.

Em out.2022, o desemprego real segundo o INE atingia 446700 trabalhadores, e apenas 289125 (64,7%) estavam inscritos nos Centros de Emprego. E recebiam subsídio apenas 161815 (36% do total de INE) Segundo o INE o desemprego é a principal causa da pobreza pois 46,5% dos desempregados estão na pobreza segundo o INE. E não é difícil prever que toda esta situação se agrave mais em 2023 devido à recessão económica causada pela guerra e pela multiplicação de sanções pela U.E.

 

NOTA FINAL PARA REFLEXÃO O caso de Eva Kaili, vice-presidente do PE não é uma exceção de corrupção como se pretende fazer crer. O PE e a CE têm funcionado como “porta giratória” para depois ex-comissários e ex-deputados acederem a altos cargos, muito bem pagos, em grandes empresas onde têm a função fazer ”loby” também na U.E. É ex. Durão Barroso, contratado pelo grande banco americano Goldman Sachs. A presidente do PE que se diz tão preocupado com a transparência, se isso fosse verdadeiro, devia é publicar, para os europeus conhecerem, os nomes de antigos deputados e comissários europeus que ocupam altos cargos em grandes empresas privadas, recebendo “chorudos ordenados” e cuja função é influenciar o poder político a favor de grandes interesses privados. Se não fizer pelo menos isto confirmará que tudo é uma farsa para continuar o mesmo.


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