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Sábado, Novembro 2, 2024

O estado da pobreza

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

A recente publicação dos resultados de um estudo promovido pela consultora Delloite (Gen Z and Millennial Survey 2023) que revela a crescente preocupação destas duas gerações (a geração Z é a dos nascidos entre 1995 e 2004 e a dos Millennials a dos nascidos entre 1982 e 1994) com o aumento geral do custo de vida é apenas outra vertente do mais vasto problema global da desigual distribuição da riqueza produzida.

Vivendo numa era onde 1% da população possui quase dois terços da riqueza dos restantes 99%, nem o mais empedernido defensor do neoliberalismo conseguirá negar a evidência do aprofundamento do fosso entre ricos e pobres, nem a desumanidade que isso mesmo representa.

A habitual alegação de que este modelo de distribuição não impediu a redução da pobreza no Mundo, porque entre 1990 e 2015 se terá reduzido o número de pobres de quase 2 mil milhões para pouco mais de 700 milhões, carece de melhor observação, nomeadamente sobre o valor fixado como referência, de que são exemplo os 1,90 dólares diários como indicador de pobreza extrema, que ainda continuarão em uso na actual conjuntura de elevada e generalizada inflação e especialmente depois de dados da Oxfam International terem denunciado que a Covid-19 acentuou a pobreza, mas graças ao efeito perverso do modelo de distribuição registou-se em simultâneo um aumento da riqueza e da pobreza extremas, como o confirmou um relatório do Banco Mundial onde se revela que em 2020 a convergência global do rendimento sucumbiu à divergência, com os mais pobres a pagarem o preço mais alto da pandemia quando as perdas de rendimento atingiram uma média de 4% para os 40% mais pobres, o dobro das perdas dos 20% mais ricos em termos de distribuição de rendimento, levando assim a desigualdade global a aumentar pela primeira vez em décadas.

Observando apenas uma das regiões mais favorecidas, no caso concreto da Europa, a Covid-19 teve um impacto inegavelmente negativo nas condições de vida e rendimento da sua população, com o ano de 2020 a registar um aumento do risco de pobreza médio de 2,2%; dados do Eurostat confirmam que em 2021 21,7% da população da UE (95,4 milhões de pessoas) estava em risco de pobreza ou exclusão social, ou seja, pessoas em risco de pobreza ou vivendo em agregados com intensidade laboral per capita muito reduzida ou em situação de privação material e social severa e que essa situação confirmava um ligeiro agravamento face a 2020, ano em que aquela situação atingia 94,8 milhões de pessoas, ou seja 21,6% da população.

Entre os estados-membros, as maiores taxas de risco de pobreza ou exclusão social foram registadas, na Roménia (34%), Bulgária (32%), Grécia e Espanha (26% cada), as menores na República Checa (12%), Eslovénia (13%) e Polónia (16%) com Portugal ocupar o 8º lugar naquela tabela, com 22,4%, acima dos 21,7% da média da UE. Relativamente ao ano anterior a descida da taxa foi de 2,4% e o maior aumento verificado neste grupo de países, subindo quatro lugares na hierarquia.

Este é o pouco animador cenário nacional – mesmo considerando que a situação melhorou em 2022, com o país a situar-se agora abaixo da média da UE (21,6%, menos uma décima que no ano anterior) ao registar uma taxa de 20,1% e a regressar ao 12º lugar de 2020 – onde, tal como no geral, continua por definir e aplicar uma estratégia adequada à efectiva minimização de um problema global e regularmente agravado por um modelo de criação e distribuição da riqueza absolutamente enviesado, que há décadas arrasta milhões de pessoas no limiar da pobreza.

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