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Quarta-feira, Julho 17, 2024

O fim do sistema bancário europeu como o conhecemos

Arnaldo Xarim
Arnaldo Xarim
Economista

Dez anos após a sua maior crise de sempre proliferam os relatórios sobre a saúde do sector bancário europeu, quando a verdadeira realidade é que alguns dos grandes bancos europeus só sobreviveram graças aos generosos fundos públicos com que foram socorridos enquanto outros são ainda vistos como monstruosas bombas-relógio…… (Deutsche Bank, Commerzbank, Monte dei Paschi…) enquanto se assiste, como acontece entre nós onde negócios de milhões agitam pequenos bancos em Portugal, a uma grande agitação no segmento dos pequenos bancos, muito atractivo pelos menores custos à entrada no mercado e pela sua vocação para o muito lucrativo segmento do crédito ao consumo. Finalmente, o sistema bancário europeu está a esforçar-se para financiar as necessidades do continente, mas o balanço da recuperação bancária na Europa é, na melhor das hipóteses, medíocre; continua fortemente apoiada pelas autoridades públicas e apesar de saneada pelas regras de Basileia, não o foi graças a um processo de recapitalização eficiente nem seguro. Os bancos privados, tal como foram criadas na Itália do século XIV, poder-se-ão considerar ainda como a melhor solução para financiar a economia europeia do século XXI?

Quando a pressão que os bancos europeus têm sofrido nos últimos dez anos tem sido enorme e em todas as direcções, entende-se que o seu processo de transformação já esteja em andamento com a organização do sistema de financiamento europeu a caminhar rapidamente para um modelo do tipo anglo-saxónico.

Oficialmente justificada pelas taxas de juro baixas ou até negativas praticadas pelo BCE, a subida dos custos operacionais teve um efeito muito pesado sobre o sector, obrigando-o a reduzir os custos por todos os meios possíveis, a começar pela redução do pessoal e das agências; mas, embora nunca reconhecido, o verdadeiro factor para a redução das margens foi o aumento dos custos do cibercrime e da segurança cibernética.

Para compensar esta redução das margens, os bancos têm tentado aumentar o comissionamento alegando os custos operacionais, mas a forte concorrência introduzida pelo aparecimento de novos bancos on-line a cobrarem comissões muito baixas está a por em causa esta estratégia. Não é, pois, de admirar que os bancos tradicionais estejam a investir, ainda que com grandes dificuldades e com reduzido sucesso, em versões on-line dos seus sistemas.

Enquanto isto, os regulamentos de Basileia obrigam os bancos tradicionais a serem cautelosos quanto à sua capacidade de emprestar e esta é uma restrição que obviamente limita muito mais os bancos antigos, que tiveram que sanear as suas contas, do que os que estão agora a ser criados sobre esta nova base jurídica. Além desta reminiscência da crise financeira que assolou a Zona Euro nos últimos anos e à qual o sistema bancário europeu sobreviveu graças às garantias e às generosas ajudas públicas, a par com o programa de recompras do BCE, mas cujas necessidades de ajustamentos ainda não estarão completamente resolvidas ou já não se falaria na reforma da Zona Euro, na união bancária, nos Eurobonds, no orçamento para a zona da união monetária, ou num sistema que facilite o investimento através de uma União dos Mercados de Capitais, opções que a Alemanha e a Holanda se têm oposto frontalmente. Capitalizando o desagrado que grassa por tudo o que se assemelhe a uma Europa centralizada, alemães e holandeses chegaram mesmo a ressuscitar a ideia da antiga Liga Hanseática (aliança de cidades mercantis, alemãs ou germanófilas, que estabeleceu e manteve um monopólio comercial sobre quase todo norte da Europa e Báltico, entre os séculos XII e XVII, que do carácter essencialmente económico acabou por se converter numa aliança política) contra as propostas franceses que consideram demasiado centralizadoras.

Apesar disso a necessidade e o pragmatismo parecem começar a sobrepor-se ao idealismo e já se diz que vai haver orçamento da zona euro, ainda falta saber a sua dimensão e a sua verdadeira capacidade para financiar as economias da Zona Euro, mas a ideia faz caminho e progredirá enquanto cada estado-membro adquirir uma capacidade de financiamento maior do que a que beneficiaria se permanecesse isolado.

Outra linha de abordagem é a dada pelo actual governo italiano (uma coligação entre uma organização de extrema-direita, a Liga e o 5 Estrelas, um movimento de vincado pendor populista) com uma proposta de criação de uma moeda de restrita circulação doméstica (um pouco na sequência do plano B defendido em 2015 pelo grego Yanis Varoufakis, então ministro das Finanças), que já levou o ministro da Economia italiano a deixar o aviso de que uma moeda paralela ao euro “é ilegal e inútil” mas que poderá contribuir para acelerar o processo de entendimento entre franceses, alemães e holandeses sobre a União dos Mercados de Capitais – como já o sugeriu o FINANCIAL TIMES – e no que poderá ser a abertura de um novo espaço e uma nova geometria para a UE.

Paralelamente assiste-se, como acontece entre nós, a uma grande agitação no segmento dos pequenos bancos, muito atractivo pelos menores custos à entrada no mercado e pela sua vocação para o muito lucrativo segmento do crédito ao consumo.


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