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Sábado, Dezembro 21, 2024

O golpe na Bolívia não liquida a história

Os bolivianos acabaram de derrubar o melhor governo de sua história de maneira golpe. As mensagens de Carlos Mesa, onde ele parabeniza “o povo” por ter derrotado “a ditadura” logo serão um testemunho da enorme barbárie que a direita daquele país cometeu em conluio com os Estados Unidos, as Forças Armadas e as Forças de Segurança.

Por Luis Bruschtein

Há situações que parecem traçadas por outros processos semelhantes na história da região. Os golpes contra Perón, na Argentina; Salvador Allende, no Chile e Chávez, na Venezuela. Uma cópia do estágio inicial com uma grande campanha nacional e internacional de difamação através da mídia. Um segundo estágio de agitação das camadas intermediárias. E, finalmente, a intervenção dos militares e da polícia.

No caso da Venezuela, a mobilização popular em defesa do processo iniciado por Chávez permitiu que os setores militares que apoiavam o processo popular fossem recompostos e cortassem o meio-fio. Salvador Allende deu sua vida no golpe de Pinochet. No caso de Perón, uma antiga encruzilhada foi repetida: arme o cidadão para resistir ao golpe ou recue para evitar um banho de sangue. As pessoas em armas, sem disciplina, treinamento ou organização militar, podem ser facilmente massacradas por uma força profissional melhor armada.

Existe um suposto mundo “democrático” que celebra a queda de Evo nas mãos de multidões violentas que expressaram um racismo extremista contra coyas e aymarás. É um mundo “democrático” defendido pelas multidões fascistas do Comitê Cívico lideradas por Luis Fernando Camacho.

Não é necessário ter a bola de cristal para prever a curva decadente que a Bolívia começará a transitar com a queda de Evo Morales. É o mesmo que percorreu a Argentina a partir de 1955. E que a Venezuela poderia ter embarcado. O lítio e os hidrocarbonetos deixarão de reverter lucros para os setores populares e essa riqueza sairá do país ou se concentrará em poucas mãos. É a Bolívia do passado. Ao qual a prata foi cortada, à qual a lata foi saqueada, o óleo Bolívia com grandes bolsões de miséria. O que Evo Morales havia enterrado.

Evo Morales foi votado por 47% dos bolivianos e agora, com base no terror criado pelos ataques e incêndios nas casas de líderes populares, ele será apresentado como um ditador que perdeu as eleições. Em vez de defender o voto da maioria popular, as Forças Armadas conclamou Morales a demitir-se como exigido pelo candidato Carlos Mesa, que perdeu a eleição mais de dez pontos, de acordo com a lei eleitoral boliviana.

Para as Forças Armadas, a paz é alcançada para defender os direitos da minoria, quando deveria ter agido em defesa da decisão soberana da maioria. É a história do golpe. A maioria não precisa que os militares falem em seu nome.

O militar, os grupos dominantes na economia, a direita não aprenderam com a história. Governos que realizam transformações populares e democráticas como Evo Morales não desaparecem com um golpe.

Eles podem silenciar a mídia dissidente, podem reprimir os protestos e perseguir os líderes, aprisionar e matar combatentes, mas a semente germinará na cidade. Eles não podem parar o vento, eles não podem parar o sol. Os milhões de camponeses que encontraram dignidade em suas vidas, os milhões de bolivianos que conheceram um país em solidariedade a Evo Morales têm boas lembranças. Essa memória aumentará com o tempo. Isso o tornará um gigante, um símbolo e bandeira de novas lutas populares. Um golpe não pacifica ou liquida a história.


por Luis Marcelo Bruschtein, Jornalista argentino e vice-editor do jornal Página 12   |  Texto original em português do Brasil

Exclusivo Editorial PV / Tornado

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