Dan Brown é, discutivelmente, um dos maiores mestres da dança literária entre o facto e a ficção. Entre as páginas do seu último bestseller, intitulado “Inferno”, podemos deleitar a nossa imaginação com uma trama sem paralelo, criada pelos planos de um terrorista que pretende obliterar uma parcela bastante significativa da nossa espécie, sob o pretexto de nos salvar do perigo iminente da sobre-população.
Os males cataclísmicos originados por uma população grande demais para a capacidade de carga do planeta são rigorosamente esmiuçados, havendo várias acusações sobre a incompetência das grandes organizações mundiais para evitar esta crise de proporções catastróficas.
Como obra de ficção
À primeira vista, “Inferno” aparenta ser uma obra de ficção tremendamente envolvente e recheada de emoção, o que torna ainda mais irónico o facto a encararmos como tal enquanto caminhamos pela estrada perigosa da sobre-população, reproduzindo e consumindo a um ritmo completamente insustentável.
O passado dia 13 de Agosto ficou marcado como o dia em que, oficialmente, começámos a viver acima das capacidades do planeta, segundo os dados fornecidos pelas Nações Unidas. Trocado por miúdos, quer dizer que consumimos mais recursos em oito meses do que o planeta consegue produzir num ano, um triste declínio em relação ao ano de 1975, quando conseguimos a fraca vitória de adiar esse fatídico dia até ao mês de Novembro.
Nove mil milhões de pessoas
Em 2043, estima-se que a população mundial chegue ao número impressionante de 9 mil milhões de pessoas, mais 2 mil milhões do que os números actuais, e aquele sobre o qual há mais consenso na comunidade científica quanto a ser o número máximo de pessoas que o planeta pode suportar. Actualmente, a Terra já demonstra extremas dificuldades em lidar com a população humana, sendo que entrámos numa era em que o ritmo alarmante de perda de espécies (114 vezes superior ao normal) levou investigadores das universidades de Princeton, Stanford e Berkeley a proporem a hipótese de termos entrado numa fase de extinção em massa, semelhante à que pôs término à era dos grandes sáurios, há cerca de 66 milhões de anos.
Cada dia em que continuamos esta marcha para o abismo, prevêem-se momentos marcados pela tragédia. Um mundo com mais pessoas do que pode alimentar e cuidar dará azo a várias consequências tenebrosas, as mais imediatas sendo a fome e a doença, duas realidades que serão grandemente amplificadas à medida que não haverá alimento suficiente para satisfazer as necessidades monstruosas de uma população tão grande. O meio ambiente também pagará pela nossa falta de noção, com o declínio inevitável dos ecossistemas à medida que ocupamos habitats, poluímos e consumimos os recursos naturais do planeta.
Cidadão não pensa antes de trazer uma criança ao mundo
No meio de tudo isto, ainda se vêem casos de desperdício, poluição e destruição gratuita de habitats que são dignos do maior choque, indignação e franco sentimento de repulsa. Tudo isto é motivo para alarme e, indubitavelmente, uma chamada de atenção não só para as grandes entidades governamentais e empresas multinacionais, mas também para o cidadão comum que não perde uma oportunidade de desperdiçar água, comida, luz, que não recicla ou que se nega a usar transportes públicos, e que não pensa bem o suficiente antes de trazer uma criança ao mundo: num futuro dolorosamente próximo, nós podemos fazer a diferença entre a humanidade e a extinção.
O planeta poderá (eventualmente) recuperar do mal que lhe fizermos. No entanto, já não se pode dizer o mesmo de nós.