É o titulo do romance que escrevi em 1998 e foi publicado pela GRADIVA em 1999.
Escrever este romance foi uma espécie de acting out com toda a carga que esta expressão tem. Escrevia durante o dia, nos intervalos das consultas, à hora do almoço e jantar, de noite, tinha de escrever, sem reler, nem corrigir. Era compulsivo. Não fiz um plano. Não alinhavei os capítulos. Escrevi. Terminei. Pedi a duas amigas para passarem o texto para word no computador. Mandei para seis editoras, pelo correio, em Dezembro de 1998.
Em Janeiro ligaram-me da Gradiva. Era o editor, o Guilherme Valente. Disse-me que achava o romance muito bom e que queria publicar. Perguntou se podia mandar a minuta do contrato para eu assinar. Eu disse que sim. Estava tonta. Comecei por ligar aos meus filhos.
Num segundo telefonema, logo a seguir, o editor da Gradiva perguntou-me como queria eu a capa do livro. Nem foi bem uma escolha: uma imagem veio-me ao pensamento. Uma gaiola de grilo, uma das antigas. Ele perguntou pela cor do fundo, e eu respondi “alaranjado”.
O livro saiu para as livrarias, quinze dias depois, tão rápido que nem pude escrever que o dedicava aos meus filhos. Recebi o cheque da Gradiva estava o livro a sair. A capa do livro, de que gostei imenso, foi desenhada na editora e assim que a vi, aprovei: a gaiola de um grilo estava tal como a imaginei.
Houve em Braga um formal lançamento no Museu Nogueira da Silva organizado à pressa.
Depois começou uma roda viva!!
Pensei que as pessoas que me conheciam me iam dar os parabéns por esta vitória! Que me iam fazer perguntas sobre o livro.
Mas eu ia ao centro da cidade e via amigos, melhor dizendo, via conhecidos, a fugirem.
Estava eu, sozinha, na esplanada da Pousada de Santa Maria de Bouro a ler e chegaram uns professores, um casal muito metido a letrado. A esplanada é enorme e eu era a única ocupante daquela tarde. Rodeada de mesas e cadeiras vazias.
Perguntaram:
_Então que tens feito?
Eu respondi:
_Escrevi um livro!! Acaba de ser publicado! Foi publicado a semana passada! Está aqui, e mostrei.
A professora pegou no meu livro com as pontas dos dedos, nem o voltou. Não viu a capa, nem o meu nome, nem a contracapa com a sinopsis. Abriu a boca como peixe fora de água disse:
_Estamos cheios de pressa. Desculpa. Temos de ir ali… ali.. ali abaixo.
E muito transtornados saíram pela porta baixa.
Nunca mais me falaram. Até hoje! Nem boa tarde, nem bom dia!
Dias depois um outro conhecido telefonou-me e convidou-me para jantar. Toda contente, eu. Apareceu ele, bem vestido, aprimorado, com um grande ramo de flores. Brancas!
Sentamo-nos numa mesa de restaurante. Eu na expectativa.
Ele perguntou-me, sério, incisivo:
_Já estás arrependida do que fizeste, não estás?? Que feio é o teu livro!
Foi o tempo de me levantar. E sair. Deixei as flores brancas a enfeitarem e mesa. Ele ainda articulou que as flores eram o símbolo da minha inocência. Mas essa eu já a tinha perdido. E fiquei para sempre com a impressão impossível que ele usava monóculo!
Outro telefonema, outro jantar.
Nesse outro jantar o meu conhecido disse-me, assim que nos sentamos:
_Olha Beatriz, eu sei que eu sou o personagem do teu livro. Li-o ontem, nem dormi! Como foste capaz de me fazer isto?
Eu só o tinha conhecido depois de ter escrito o romance, em Janeiro. Soube depois que embora nascido em Braga tinha vivido muitos anos na Algarve, de onde tinha regressado para o Minho no Natal, exatamente quando eu esperava a resposta das editoras.
Fiquei com meia dúzia de amigas. Amigos, nenhum. Em Braga, digo eu. Espalhados pelo mundo continuei a ter muitos.
Aprendi muito. Foi uma grande experiência que ainda agora faz engulhos a alguns/as. Mas que a mim dá uma satisfação incrível!!
Em Braga o meu romance foi ignorado com a sobranceria que é habitual à cidade dos arcebispos, onde a maioria caminha debaixo de um palio imaginário.
Anos mais tarde encontrei no google uma fantástica referência ao meu livro no Blog do Rui da Costa Lopes, um amigo falecido recentemente. O Blog “Portugal, Caramba”. O Rui assinava “TACCI” nos desenhos que encantavam todos.
Tacci fez um desenho para o personagem principal de o Insecto Imperfeito. O PENTACOLADOR.
Conheci-o, depois, numa tarde memorável que passamos na estação do Oriente.
Mantivemos contacto por correio eletrónico, pelo facebook e pelo telefone.
O Rui, irónico até durante a doença, irónico e anarquista como sempre foi é um amigo que só encontrei, em pessoa, uma vez na vida. E essa única vez ligou-nos para sempre.
Amigos, é raro tê-los.
Por opção do autor, este artigo respeita o AO90
Transferência Bancária
Nome: Quarto Poder Associação Cívica e Cultural
Banco: Montepio Geral
IBAN: PT50 0036 0039 9910 0321 080 93
SWIFT/BIC: MPIOPTPL
Pagamento de Serviços
Entidade: 21 312
Referência: 122 651 941
Valor: (desde €1)
Pagamento PayPal
Envie-nos o comprovativo para o seguinte endereço electrónico: [email protected]
Ao fazer o envio, indique o seu nome, número de contribuinte e morada, que oportunamente lhe enviaremos um recibo via e-mail.