Desde 1984 que a França representa a mesma peça política. A Frente Nacional afirma-se, progride, conquista o primeiro lugar na primeira volta das eleições. A Esquerda e a Direita criticam, condenam e unem-se: “Fazer barragem!”. “Frente Republicana”. Correm palavras sobre o receio do avanço frentista. A receita dá resultado na segunda volta. A Frente Nacional é vencida. Mas volta a avançar e a progredir em votos. Já vai em mais de 6, 5 milhões. Como será na próxima?
Em 6 e 13 de Dezembro de 2015 repetiu-se a peça. Na primeira volta, a Frente Nacional venceu em seis das regiões francesas europeias, ultrapassando conservadores e socialistas. Estava à vista uma reviravolta da política francesa e o provável congelamento da União Europeia. O populismo de direita ia triunfar e com ele o revanchismo e as políticas de exclusão.
Nas regiões de Provence-Alpes-Côte d’Azur, Marion Maréchal-Le Pen teve mais 40% dos votos; no Nord-Pas-de-Calais-Picardie, Marine Le Pen também recebeu mais de 40% dos sufrágios. Em Alsace-Champagne-Ardennes-Lorraine, o estratega da FN, Florian Philippot, também teve mais de 35%. Convém lembrar que o leque ideológico da Frente Nacional tem-se alargado,desde que saiu de cena o patriarca da família, Jen Marie. A presidente Marine Le Pen é o centro de gravidade entre uma ala esquerda em que se destaca Florian Philippot e uma ala direita com Marion Maréchal-Le Pen.
No dia 7, o primeiro-ministro francês, o socialista Manuel Valls, apelou à votação na direita em três regiões, para impedir a vitória da extrema-direita na segunda volta. O Partido Socialista francês decidiu retirar os seus candidatos nas regiões onde havia risco da Frente Nacional vencer e onde a esquerda não superava a direita. Era a “barragem republicana”. Sarkozy foi mais ambíguo, como é seu timbre, e não retirou candidatos.
A 13 de Dezembro, após uma campanha marcada pelo risco da reviravolta, percebia-se que o resultado da segunda volta estava na mão dos abstencionistas, enquanto Marine Le Pen revelava que fosse qual fosse o resultado das eleições regionais, avançaria com a candidatura às eleições presidenciais francesas.
Felizmente para a Europa e a França, a participação eleitoral subiu bastante no dia 13. Chegados os resultados, a Frente Nacional não venceu em nenhuma região, enquanto a direita ganhou 7 e a esquerda 5 das regiões do hexágono europeu. As outras 5 regiões são a Córsega e territórios de ultramar.
“Ganhar ou perder” em eleições depende dos pontos de partida e objetivos. Claro que Marine Le Pen falou em triunfo, porque triplicou o número de vereadores em relação a 2010. “As nossas listas passaram para 30% dos votos na segunda volta”. É uma clara confirmação à caminhada que iniciou para candidata a presidente da República em 2017. Se não for entretanto ultrapassada pela sua sobrinha, que provoca entre os apoiantes efeitos de jet-set e celebridade.
Os avanços da Frente Nacional resultam sobretudo das incapacidades da direita e da esquerda convencionais. Os eleitores da FN não são todos tolos nem radicais nem racistas. Muitos deles protestam contra o vazio neo-liberal que tomou conta da política francesa. À França – como de um modo geral a todo o sul da Europa – falta um verdadeiro centro político que se afundou desde que o MODEM de François Bayrou se deixou apear.
“Socialistas” e “Republicanos” franceses formam uma oligarquia com duas receitas alternadas de neo-liberalismo. Cada uma delas traz a insegurança económica, a insegurança social e a insegurança cultural. Mais desemprego, menos crescimento, mais ambiguidade de valores. O mais que os oligarcas de esquerda e direita conseguem fazer é prometer um crescimento económico de 1% sob o jugo do “moeda única”. Os oligarcas da direita, à Sarkozy, consideram que a promessa é cumprida com flexibilidade do mercado de trabalho; os oligarcas da Esquerda como Hollande e Valls querem manter um modelo social mínimo.
Quanto à Frente Nacional, continua a fazer promessas, cheia de contradições e negações todas no mesmo saco; não à Europa, ao euro, à imigração, aos refugiados, ao Islão. Tem servido de bombo de festa às duas facções da oligarquia no poder mas há qualquer coisa de estranho num sistema eleitoral que não permite representação a 6,5 milhões de eleitores. Perdeu mais uma vez na segunda volta mas continua a testemunhar o mal europeu de não saber o que a Europa quer. Em 2017 deve repetir-se a peça.