Poemas de Delmar Maia Gonçalves
I
“Sou…”
Sou
uma voz do silêncio abafado
um grito sem ruído
luz transparente
mapa transfronteiriço
fronteira infinita
amplexo fraterno.
II
O mar
assobia e canta
aos seixos do caminho
e sempre sobre as pedras!
III
Entre a beleza e o espanto
há espaço
para o vazio da mediocridade.
IV
“Apocalíptico”
E o chão fugia-nos
dos pés
e não se vislumbrava luz
e da terra chovia fogo
e do céu um manto de cinzas
e vislumbravam-se felinos e canídeos flutuando sem asas
e morcegos noctívagos caindo à luz do dia
e se transformando em pó
e ouvia gritos lancinantes de homens
e uivos animalescos de desespero
num cenário apocalíptico
como se nos dirigíssemos
todos para a única porta
simultaneamente de entrada e saída
Inevitavelmente
não havia escapatória
e a desordem e o caos
eram a regra e o destino
e dominavam irrevogavelmente
De nada valia
remar contra o vento
Chegara o dia
estava escrito
e assim aconteceu
como no livro da luz
e das trevas!
V
Questiúnculas de desalmados
não fazem cair
um homem vertical!
VI
O mar
abraça
todas as ondas!
VII
O mar
não conhece o regato.
VIII
Ainda
que resista
aos seus longos amplexos
nada nem ninguém
me dá garantias seguras
sobre quem sobreviverá:
se o deus cifrão e a mentira
se a verdade!
IX
“Manjacaze”
Em Manjacase
há fantasmas
penetrando na noite
perdidos na busca
da memória.
X
No vôo passageiro
das nuvens do tempo
depusemos o que de puro e generoso
há em nós!
Onde pára
então o vento?
Em que casulo
repousa?
Que tempestades
causa dentro de nós?
XI
“Batuque rima com esperança”
Onde há batuque
há festa
e onde há festa
há tilintar acelerado dos corações
Onde há batuque
há África
E África…
é amor
é alegria
é desejo
é paixão!
No batuque
há uma eterna
mensagem de esperança!!!