Os conflitos regionais obedecem a uma política belicista internacional.
A agência de notícias chinesa Xinhua informa que o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Shah Mahmood Qureshi, disse ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, que a “postura agressiva” da Índia pode afetar os esforços conjuntos pela paz no Afeganistão. As observações de Qureshi ocorreram em um momento em que os talibãs e as autoridades dos Estados Unidos mantêm negociações no Qatar. Segundo Qureshi, de acordo com a Xinhua, a Índia violou a “linha de controle” na Caxemira.
A Índia havia dito que seus aviões de combate bombardearam um acampamento do grupo Jaish-e-Mohammad, que foi responsabilizado pelo ataque suicida na Caxemira controlada pelo país no início deste mês e que matou 40 soldados paramilitares indianos. “A agressão indiana pode atrapalhar os esforços conjuntos para estabelecer a paz no Afeganistão”, disse Qureshi a Pompeo.
Chama a atenção, nessa informação da Xinhua, o fato de que o incidente foi tratado com o representante do regime norte-americano, marcado pela lógica proclamada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, George W Bush, numa cerimônia de formatura de cadetes da Academia de West Point no Estado de Nova York: “Os demais países do mundo (sic) só têm duas alternativas: ficar com os Estados Unidos ou com o terrorismo.”
Amores pátrios
Essa frase expressa a natureza dos conflitos em várias partes do mundo. Na divisa da Índia com o Paquistão, o ar parece estar com cheiro de plutônio. Os dois países querem mostrar para o clube mundial dos brutamontes belicistas que também são gente grande e sabem brigar. Não chegam a ser taludos como as potências da Otan, mas rosnam, espumam e rangem os dentes. De um lado e de outro da fronteira, a capacidade nuclear é igual ou superior a 20 quilotons de TNT — exatamente a carga que recheava a bomba atômica dos Estados Unidos que dizimou Hiroxima em 1945, matando pelo menos 100 mil pessoas.
Com seus mísseis balísticos, as ogivas nucleares podem atingir Islamabad, capital do Paquistão, e Nova Déli, capital da Índia, em apenas três minutos. Como suporte e demonstração de força, a Índia exibe 845 aviões de guerra ingleses, franceses e russos e o Paquistão 436 aviões norte-americanos. As tropas indianas totalizam 1,1 milhão de soldados e as paquistanesas, 600 mil.
Amores pátrios e ódios políticos são manipulados pelos Estados Unidos e as velhas senhoras encrenqueiras da Europa, que instigam perigosamente essa chantagem nuclear para justificar seus arsenais prontos para serem, primeiro, expandidos, e, um dia, se preciso for, utilizados. Essa é a lógica. Ninguém investe bilhões em equipamentos que não quer usar.
Desintegração soviética
Assim como no entrevero Índia-Paquistão, no conflito do Oriente Médio a cobertura da mídia ocidental trata o governo norte-americano como um inocente e honesto observador do massacre do povo palestino. Nada se fala sobre abastecimento de armas, ajuda militar e tecnológica, e retaguarda política dos Estados Unidos ao governo de Israel. E os palestinos que lutam por seus direitos, excluídos no cenário global envenenado pelo belicismo norte-americano, são tratados como “terroristas”.
Na América Latina esse belicismo se manifesta na forma de métodos primários de agressões à esquerda, sobreviventes do mais rudimentar anticomunismo, a velha falácia do bem contra o mal que expressa bem a capacidade do sistema de poder norte-americano, com pretensões à sua perpetuação universal, de impor à humanidade as suas verdades. Pode-se afirmar que esse é um sistema de ameaças à própria sobrevivência do planeta à medida que ele cria extrema dificuldade para que as grandes maiorias compreendam os fenômenos políticos, sociais e econômicos.
O triunfo neoliberal, no entanto, não apagou do mapa-mundi importantes experiências soberanas e progressistas. São experiências que ainda vivem sua infância, mas não deixaram de ser referências para a decisiva luta contra a dominação e a espoliação comandadas pelas poderosas corporações privadas. A desintegração soviética abriu campo para a tese de que a disputa entre esquerda e direita está menos extremada e circunscrita ao projeto liberal. E o debate político, em geral, não foge à máxima de que agora as forças ideológicas que digladiaram — socialismo e capitalismo — no decorrer de todo o século XX foram suplantadas pela “vitória” cabal de um dos contendores.
Batalha na Venezuela
Na América Latina, aceitar essa tese significa abrir mão de uma experiência revolucionária como a cubana. Ou por outra: significa ser pego desarmado no fogo cruzado em batalhas como essa da Venezuela. O embaixador cubano Rosendo Canto Hernández, que serviu a seu país na Espanha, vai à raiz da questão. “O que é a história de Cuba senão a história da América Latina? E o que é a história da América Latina senão a história da Ásia, África e Oceania? E o que é a história de todos estes povos senão a história da exploração mais inumana e cruel do imperialismo no mundo inteiro?”
Para que brotasse em Cuba a raiz da total independência da América Latina em relaççao aos Estados Unidos, foi preciso a semente plantada Simon Bolívar, José Martí, San Martin e outras figuras imortais para o continente, regada por tantas outras personalidades inesquecíveis. A América Latina possui mais da metade de toda dos recursos naturais do planeta. De cada cinco árvores que existem na terra, duas crescem na região, que possui o rio mais caudaloso, duas das maiores cidades do mundo e uma riqueza fabulosa de terras férteis.
por Osvaldo Bertolino | Texto em português do Brasil
Exclusivo Editorial PV / Tornado