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João de Sousa

Sexta-feira, Novembro 1, 2024

O meu voto é meu!

Editorial

Os portugueses votaram. Ponto. A opção que cada um tomou só a ele pertence e responsabiliza, tenha sido no partido A por decisão “útil”, no partido B por convicção, no C por ser contra o A ou no D por “sorteio” mental de última hora. Seria até útil discorrer sobre as diferentes causas do voto nulo, do branco e da abstenção, mas esta não é já a ocasião.

Usar as estatísticas e, sobretudo, as “nossas” convicções partidárias para interpretar o sentido de voto de todos os portugueses após o escrutínio global é ilegítimo.

Estando a democracia assente no princípio da representatividade, a deposição do voto na urna corresponde a assinar uma procuração aos eleitos. Para o bem e para o mal. Daí que os líderes partidários estejam legalmente mandatados para negociarem os acordos que bem entendam ser os que mais garantias lhes conferem de poder cumprir o melhor possível os programas eleitorais apresentados. Ainda que poucos eleitores os tenham lido…

Assim, é tão legítimo a coligação PSD/CDS-PP avançar com uma proposta de governo como tentar um acordo prévio com o PS, não podendo ser afirmado que não foi para isso que recebeu 36,83% dos votos (mais as percentagens dos círculos onde concorreram isoladamente). Foi!

Do mesmo modo, é tão legítimo o Partido Socialista negociar acordos com os partidos de esquerda como com a coligação PSD/CDS-PP. E também neste caso não se pode afirmar que não foi para isso que recolheu 32,38% dos votos. Foi!

Igual situação se aplica a qualquer outro partido, como de resto será ainda mais flagrante se se concretizar a ainda possível eleição de um deputado pelo NOS Cidadãos, quando estiver concluído o escrutínio do Círculo da Emigração…

Por convicção, utilidade conjuntural, ignorância ou outra qualquer razão, os portugueses votaram e ninguém pode arrogar-se no direito de interpretar porque votaram como votaram. É ainda bom recordar que estas foram eleições legislativas, ou seja, os eleitores foram às urnas para escolher deputados. Se é pacífico que poucos consideravam ser possível, por exemplo, o PAN conseguir ficar representado no Parlamento, como afinal conseguiu, mais pacífico é ter a certeza que quem votou neste partido não pensou estar a contribuir para a chefia do Governo.

Assim sendo, os portugueses elegeram deputados e cabe aos partidos encontrarem solução de governabilidade. É para isso que (ainda) existem.

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